São Paulo, segunda-feira, 2 de maio de 1994
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Era um homem tímido, mas interessante

JOYCE PASCOWITCH
COLUNISTA DA FOLHA

Depois daquele jogo merreca da Seleção do Brasil contra o Paris-Saint Germain no último dia 20 no Parc des Princes, Paris, aquele em que nem choveu nem molhou, só mesmo um jantar no La Coupole para resgatar o sentido pátrio.
Isso porque lá no canto da ruidosa mesa comandada pelo publicitário Eduardo Fischer –e regada por um Saint Emilion inesquecível–, lá no outro canto estava sentado o piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna.
Ayrton Senna estava todo tímido, do jeito que ele sempre foi. E do mesmo jeito que eu cruzei pela primeira vez com ele, nessa mesma noite no bar do restaurante La Coupole.
Vai olhar, vem olhar. Não é que o rapaz é muito mais interessante em trajes civis?
Fórmula 1 nunca foi meu forte, assim como nenhum outro esporte em especial.
Mas era para Ayrton Senna que eu torcia, nem sei por que, já que de "gauche" –meu tipo preferido– ele não tinha nada.
Ao contrário, o piloto Ayrton Senna fazia o gênero bem comportado, dedicado, família. E de uma predestinação que chagava a incomodar.
No meio daquela festa toda, aquela mesona enorme com mais de trinta ou quarenta pessoas, todos alegres apesar do tal jogo merreca.
Nesse jogo, Ayrton Senna tinha dado o pontapé inicial, bem, ele parecia estar olhando através.
Ele não fazia parte daquele show. Estava sim cercado por gente que conhecia.
Pessoas que faziam parte da Renault, pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e, principalmente por seu amigo de todas as horas, o empresário Antônio Carlos de Almeida Braga, o Braguinha, seu vizinho em Portugal, louco por esportes em geral e "bon vivant" assumido.
Senna vinha de resultados pouco favoráveis nas últimas corridas. Estava quieto. Fiquei observando o jantar inteiro, aquele personagem era novo para mim –e completamente fascinante.
Na hora de ir embora, passou pelo nosso lado da mesa e deu um oi. Feitas as devidas apresentações, falou que sim, eu escrevia muito bem. Obrigada, Ayrton.
O fato é que eu fiquei ligada. E logo que voltei a São Paulo, tratei de ir atrás.
Agora que eu tinha conhecido Ayrton Senna, queria mais. Queria saber como era tudo, como funcionava, o que ele achava.
Tudo aquilo que eu não tinha lido em reportagem nenhuma –e que eu queria descobrir por conta própria.
Alguns telefonemas, espera a semana que vem, quando Leonardo Senna, o irmão, chega da Europa e os primeiros contatos podem ser feitos.
Tinha certeza que Ayrton Senna iria achar a maior graça.

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