São Paulo, terça-feira, 3 de maio de 1994
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"Morreu uma parte de minha vida", diz Prost

ANDRÉ LAHOZ
DE PARIS

"A morte de Ayrton Senna representa também a morte de parte de minha vida."
Foi assim que o ex-piloto francês Alain Prost definiu o significado do desastre ocorrido com o seu maior rival à televisão francesa TF1. "Eu precisava de Ayrton assim como ele precisava de mim."
"Eu tenho o maior respeito por Ayrton Senna", disse o francês. "Um respeito que vai além da enorme diferença entre nossas personalidades."
"Nunca fomos muito próximos, e nos afastamos mais quando eu abandonei a F-1 e toda a rivalidade que a cerca. Fiquei surpreso com a mensagem que ele me deixou, dizendo que eu lhe fazia falta. O que posso dizer é que ele também vai fazer muita falta a todos."
Prost disse que preferiria não fazer nenhuma declaração. Procurado pela Folha, ele se recusou a falar mas avisou que estaria à noite na televisão.
Segundo Prost, Senna havia mudado nos últimos tempos, embora talvez nem todos tenham percebido. "A própria maneira de dirigir estava diferente. Talvez seja normal com o passar dos anos. Mas o fato é que Ayrton estava mais cuidadoso."
Para o francês, o brasileiro "tinha conciência de que o esporte e os carros estavam cada vez mais perigosos". Considerava que a mudança tornava Senna "ainda mais estranho e bizarro".
Sobre o acidente, Prost disse ter uma certeza: "Não foi um erro de pilotagem. Alguma ruptura mecânica fez com que Ayrton perdesse o controle do carro. O grave é que naquelas condições não há quase nada que o piloto possa fazer".
Prost voltou a atacar os dirigentes do automobilismo. "É preciso calma, não dá para afirmar que o acidente poderia ter sido evitado se as regras fossem outras. Nunca acabaremos com 100% do risco da Fórmula 1. Mas o que certamente dá para dizer é que o risco poderia ser bem menor, e só não o é porque é preciso criar um espetáculo", disse o francês. "A velocidade dos carros tem que diminuir."
Prost afirmou tratar-se de um fim-de-semana excepcional, e que o mínimo que pode acontecer é que as pessoas responsáveis tirem lições dos tristes eventos.
"Os pilotos são como marionetes nas mãos das equipes e dos dirigentes. Parte da culpa também é dos pilotos, que não se organizam para melhorar as coisas", disse.
Para ele, os vários acidentes graves que acabaram não resultando em danos físicos aos pilotos deram a ilusão que a tecnologia garantia a vida dos pilotos.
"É preciso dizer claro: Barrichello escapou por milagre."
Prost também ficou irritado com o fato de as equipes não terem avisado os pilotos sobre Senna.
"Eu acho que a corrida deveria ter sido interrompida. Se fosse comigo, eu gostaria de saber o que realmente estava se passando. É uma questão de decência e acho que foi uma falta de respeito."

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