São Paulo, terça-feira, 3 de maio de 1994
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Casamento conturbado

PSDB, PFL e PTB formalizaram publicamente ontem em Brasília a sua aliança com vistas à disputa presidencial. Incongruente sob qualquer ponto de vista ideológico, essa estranha aliança eleitoral de grupos políticos tão díspares –se não antagônicos– mesmo antes de oficializada já se havia constituído num fato de relevo e impacto no cenário político do país.
O acordo nasce em meio a grandes dificuldades, com destaque para a prolongada novela em torno da escolha do nome do PFL para candidato a vice de Fernando Henrique Cardoso. Depois de sucessivas idas e vindas, com nomes subindo e descendo nas cotações, a indefinição prossegue e causa desgaste.
O episódio do deputado Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA) é emblemático desses problemas, que ao fim e ao cabo nada mais fazem do que refletir entraves naturais e previsíveis em se tratando de partidos divergentes como PFL e PSDB. Filho do cacique pefelista e ex-governador da Bahia Antônio Carlos Magalhães, Luís Eduardo chegou a ser o mais cotado para vice.
No entanto, como representante típico do PFL –e de tudo que esse partido significa na política brasileira–, granjeou crescente oposição dentro do PSDB, ainda mais depois da vigorosa defesa que fez de Ricardo Fiuza no escândalo do Orçamento. Ademais, recordou-se publicamente que o deputado baiano havia votado contra o impeachment de Collor. Seria portanto um nome que não facilitaria em nada as relações com um partido que sempre se pretendeu preocupado com a ética como o PSDB. Não sem gerar algum desconforto entre as lideranças das duas legendas, essa alternativa acabou enfim sendo dada como descartada.
Com base numa lista de sete nomes apresentada ontem pelo PFL, a negociação prossegue na busca de um candidato que atenda simultaneamente aos requisitos de dispor do apoio das lideranças do PFL, atrair votos no Nordeste (razão maior da aproximação para o PSDB) e não estimular ainda mais a rebelião entre os tucanos. É uma tarefa tão crucial quanto difícil para partidos cujos membros estiveram, por tanto tempo, em lados opostos do campo político nacional.

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