São Paulo, terça-feira, 3 de maio de 1994
Texto Anterior | Índice

O adeus a Senna; Lula e a traição

O adeus a Senna
"Se a brutal, estúpida e inesperada morte de Ayrton Senna no circuito de Imola chocou todo o Brasil, aos brasileiros que vivem no exterior, como eu, arrancou, abruptamente, a única alegria, misto de orgulho e prazer, proporcionada pelas suas vitórias. A já saudade de ver aquele capacete verde-e-amarelo passando por nós, nos autódromos ou pela televisão, da emoção do desfraldar da nossa bandeira a cada conquista de um primeiro lugar, de um campeonato mundial, toca muito fundo a cada um de nós. Adeus, Senna e obrigado por demonstrar ao mundo que o Brasil e os brasileiros podem e são capazes de dar certo."
José Monteiro (Porto, Portugal)

"Os canadenses e o povo da província de Quebec admiravam Senna tanto quanto admiravam Gilles Villeneuve, que também morreu em um acidente semelhante. Gostaríamos de nos solidarizar com o povo brasileiro neste momento de profunda tristeza."
Gilles Tremblay (Quebec, Canadá)

"O que assistimos nesse fim-de-semana na Fórmula 1 representa de forma clara o que acontece em todas as áreas da sociedade: a lei e a ordem estão ofuscadas pelo poder do dinheiro. A vida não é mais o foco principal. Por que mudaram as regras na Fórmula 1? Para diminuir os riscos à vida? Não! Para preservar a ordem e a vida? Não! Para aumentar o público, a rentabilidade, os lucros?"
Denise Dores Moreira (São Paulo, SP)

"Os caciques da Fórmula 1 modificaram o regulamento, retirando dos carros o que os tornava compatíveis com as altas velocidades que atingiam, dando-lhes estabilidade e segurança. Tudo em nome da competitividade. Com isso, fizeram um pacto com a morte. Nunca a F-1 teve duas mortes num único fim-de-semana. O Brasil chora a perda do seu último ídolo."
Sérgio R. de Niemeyer Salles (São Paulo, SP)

"Foi com perplexidade que o Brasil assistiu à cena do acidente de Ayrton Senna. Eu, particularmente, me sinto culpada pela tragédia. Como muitos, incentivava a estupidez disso que chamam de `esporte', vibrando em cada vitória e torcendo para que ele acelerasse mais e mais. `Acelera, Ayrton'. Que Deus nos perdoe. Morre um piloto, nasce a consciência."
Regina de Carvalho Tognasoli (São Paulo, SP)

"Senna era um amigo que me alegrava nas manhãs de domingo e nas madrugadas de Suzuka e Adelaide, mesmo quando essa prova já não valia nada. Um amigo que adoçava minhas cervejas às 8h da manhã ou às 2h da madrugada. Hoje, novamente estou bebendo: com lágrimas na face, a mais amarga de todas as cervejas, buscando na embriaguez a compreensão do seu assassinato."
Paulo Klain (São Paulo, SP)

"Num país onde a população vive carente de heróis e cercada por vilões, a morte de Ayrton Senna nos abala profundamente, não só pela ausência do campeão de Fórmula 1, mas principalmente pelo herói que, dentro de sua máquina, conduzia a nação brasileira à vitória."
Ronoel Pedrosa de Oliveira (Votuporanga, SP)

"A Fórmula 1 perdeu em uma curva a sua mais bela lenda. Ayrton Senna será sempre lembrado por sua garra, conquistas, perícia e também pelas alegrias que deu a todo o povo brasileiro. Um cavaleiro medieval que soube honrar a sua bandeira e o seu país. Valeu, Ayrton!"
Guilherme Bussing (São Paulo, SP)

"Não dá para imaginar o automobilismo sem Senna. Quase todos os pilotos do mundo pensam em Senna e buscam inspiração em Senna. Para nós, ele bateu todos os recordes. Ele foi o melhor! Senna deixou viva em nós a vontade de vencer."
Suzane Carvalho (Rio de Janeiro, RJ)

"Neste domingo, a nação brasileira assistiu, estarrecida, à morte de um de seus filhos mais ilustres. Mais do que ser um desportista bem-sucedido, Ayrton Senna materializava o ideal de milhões de brasileiros que acreditam no futuro desta nação. Poucos motivos tínhamos de orgulho perante o cenário internacional, mas tínhamos Ayrton. Ingenuamente, acreditávamos que ele estava acima das fatalidades inerentes à sua profissão. Seu exemplo fica registrado na história como um homem de vanguarda, predestinado."
Alexandre Borges Dornelles e Arão Fischman (Florianópolis, SC)

"A intransigência dos cartolas da FIA/Foca ao não suspender o Grande Prêmio de San Marino após a morte do piloto austríaco Ratzenberger no sábado causou a absurda e precoce morte de Ayrton Senna. A única atitude a ser tomada, neste momento de dor, é a proibição definitiva dos GPs de F-1 em território nacional."
Miroslau Bailak (Ubiratã, PR)

"Para a Arquidiocese de São Paulo, a morte trágica de Ayrton Senna é um anúncio e uma denúncia. Neste ano das eleições, anuncia o valor da corresponsabilidade do cidadão, que luta para dar certo no seu ambiente social, animando a esperança popular, enobrecendo o povo e honrando a nação. Nesta sociedade de violência, denuncia o nível de risco, insegurança e desprezo em que se coloca o maior valor humano, que é a vida, para dar espetáculo e ganhar dinheiro. A morte de Senna deve levar o povo a acreditar na força do exercício da sua cidadania, a fim de lutar para que o Brasil dê certo."
Arnaldo Beltrani, vigário episcopal de comunicação da Cúria Metropolitana de São Paulo (São Paulo, SP)

Lula e a traição
"O sr. Josias de Souza se acha tão visionário que acredita que Lula, mais cedo ou mais tarde, irá trair alguém. Ora, sr. Josias de Souza, a Rede Globo há muito tempo já descobriu que, não os pobres, mas os alijados de informação são subservientes aos ricos –haja visto como todo empregado de novela ama o patrãozinho. O que o sr. Josias na realidade não engole é que um joão-ninguém, vindo lá dos cafundós do Brasil, vista hoje terno e gravata e seja lúcido e culto. O sr. acredita que Lula deveria continuar o empregado que a Rede Globo prega; a vida inteira pobre e humilde porque Deus quer. Traição comete o sr. ao querer parecer mais perspicaz do que é, quando tenta enganar os mais desavisados num artigo preconceituoso e sem fundamentação prática."
Selma Braga (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Josias de Souza – Falta-me tempo para as novelas. Lamento não poder rivalizar neste campo com a leitora. Não creio que Lula seja culto. Mas isso não o inabilita para a Presidência. FHC é culto e nem por isso estou convencido de que dará um bom presidente. Se cultura fosse tudo, não precisaríamos de eleição. Bastaria um teste de conhecimentos. Sugiro à leitora que consulte os mapas de votação de 89. Notará que a patuléia preferiu Collor a Lula. Não é demais sugerir também que releia o meu texto, que parece não ter apreendido.

Texto Anterior: Ayrton Senna do Brasil
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.