São Paulo, quarta-feira, 4 de maio de 1994
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Genocídio no Brasil

MARIO CARDOSO; IVAN DE MOURA FÉ; EURÍPEDES CARVALHO

MARIO CARDOSO
IVAN DE MOURA FÉ
EURÍPEDES CARVALHO
Quando o esgarçamento da estrutura social atinge o ponto da ruptura, deixam de existir culpados ou inocentes. Todos se tornam vítimas, e cada um, dentro de sua esfera de influência, acaba se transformando em co-promotor do caos.
Na área da saúde, estamos muito próximos do estágio da caotização. Antes que todos viremos reféns da desordem, é preciso esgotar as ações preventivas. E os médicos brasileiros estão mobilizados para mostrar que não são cúmplices no genocídio que está se impondo sobre a população brasileira.
Diz a Organização Mundial da Saúde que são necessários investimentos de US$ 500 per capita por ano para se garantir um padrão digno de assistência. O Brasil investe menos de US$ 50.
Pelo atendimento de um paciente na rede pública, o médico ganha CR$ 1.500,00 –pouco mais que um cafezinho–, dinheiro que recebe com atraso às vezes superior a 60 dias, sem correção.
No mais de 6.000 hospitais, pelo menos 8.000 leitos estão desativados, 4.500 deles apenas no Estado de São Paulo. Na média, um médico que trabalha em um desses hospitais recebe em torno de CR$ 250 mil por mês.
O caos está à porta. Fechar os olhos a isso é compactuar com o crime. No próximo dia 4 de maio, as entidades médicas nacionais farão o Dia Nacional de Luta do Médico.
Em todos os cantos do país esses profissionais vão se levantar para deixar claro que não admitem ser cúmplices de quem maltrata o cidadão. Será um dia de alerta para todos aqueles que não querem enxergar a dramática situação da saúde no Brasil.

MARIO CARDOSO, 43, clínico geral, é presidente da Associação Médica Brasileira. IVAN DE MOURA FÉ, 46, médico psiquiatra, é presidente do Conselho Federal de Medicina. EURÍPEDES CARVALHO, 38, médico ginecologista e obstetra, é presidente da Federação Nacional dos Médicos.

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