São Paulo, quinta-feira, 5 de maio de 1994
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Filas para o velório atingem 7 km

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 45 mil pessoas compareceram ao velório do tricampeão mundial Ayrton Senna até as 20h. Os cálculos são do Datafolha (leia texto à pág. 2).
A espera para ver o caixão do piloto chegou a sete horas. Cerca de 4.800 paulistanos por hora entravam no velório da Assembléia Legislativa.
O público que estava na fila para o velório de Ayrton Senna, até então calmo, agitou-se no momento da chegada do corpo à Assembléia Legislativa.
Quando o caixão surgiu na avenida Pedro Álvares Cabral, as pessoas começaram a correr na direção do carro de bombeiros.
Uma multidão então acompanhou, correndo, a chegada do carro do Corpo de Bombeiros até o portão da Assembléia. O corpo chegou às 9h25.
A Polícia Militar teve dificuldades para impedir que as pessoas aproveitassem a abertura do portão e invadissem o pátio da Assembléia.
Com o portão trancado, alguns tentaram pular a grade. Foram contidos pela PM, que reagiu sem violência.
A multidão se espremeu contra as grades e gritava "Justiça" e cantava "Olê, olê, olê, olá, Senna". Mulheres, homens adultos e crianças choravam. Trinta minutos depois, o clima ficava mais sereno.
Poucos minutos antes da abertura à visitação, às 10h45, houve novo tumulto no portão de acesso do público ao velório.
Houve empurra-empurra e várias pessoas desmaiaram. A Tropa de Choque teve trabalho para conter o movimento, só controlado com a abertura do portão.
Até as 13h, 56 pessoas haviam desmaiado ou se ferido na fila do velório.
Uma hora depois, às 14h30, a Polícia Militar estimava que a fila para ver o corpo chegava a 7 quilômetros.
Começava na praça Eisenhower, a 700 metros da Assembléia Legislativa, e se desdobrava pelas imediações da rua Abílio Soares.
A estudante Rita Panci, 20, saiu de sua casa, na Vila Maria (zona norte) e veio ao velório de ônibus.
Rita disse que chegou ao Ibirapuera por volta das 7h. Só conseguiu ver o caixão às 15h30.
"Vou entrar na fila de novo. Senna era meu herói", afirmou. Usava um boné com a assinatura de Senna, comprado da porta do velório por CR$ 5 mil.
Passavam defronte ao caixão pelo menos cem pessoas por minuto, segundo os cálculos da PM. Os policiais imprimiam um ritmo acelerado para os visitantes.
Muitos choravam, outros paravam para tirar fotografias ou ler as mensagens deixadas junto ao caixão. Outros depositavam as últimas lembranças, como camisas, fitas, bandeiras, cartazes e terços em frente ao caixão, sobre o tapete vermelho.
Funcionários das empresas de Senna, até as 14h, recolheram quatro caixotes de lembranças, deixadas pelos fãs de Senna. Numa delas, uma cartolina com a foto de Senna, lia-se: "Imola é assassina do número 1".
O jornalista inglês Richard Williams, do jornal britânico "The Independent", disse nunca ter visto "tanta gente num enterro".
Conta que foi enviado ao Brasil para produzir um caderno especial para seu jornal, a ser veiculado na Inglaterra domingo.
"Todo o inglês via em Senna uma pessoa incomum, um herói que nunca mais teremos. Toda a Inglaterra o acompanhou desde jovem. Ele era nosso herói também", disse.
A assessoria do imprensa da família criou cinco tipos de senha para organizar a circulação das pessoas na Asssembléia. Eram cinco tipos de adesivos colados no peito.
O mais disputado era o da letra A, que significa "amigo". Permitia acesso irrestrito às dependências, até mesmo no gabinete na presidência da Assembléia, onde estava a família.
Outros adesivos eram F (familiares), I (imprensa), S (segurança) e C (coordenação).
(DC e CJT)

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