São Paulo, quinta-feira, 5 de maio de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Fórmula 1 só pensa em dinheiro'

LUIZ CARLOS DUARTE; EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

"Na Fórmula 1, parece que as pessoas só pensam em dinheiro." Foi com essa frase que Leonardo Senna da Silva, irmão de Ayrton, terminou sua rápida declaração aos jornalistas, ontem à tarde, às 15h38, na Assembléia Legislativa.
O depoimento, no plenário José Bonifácio, durou menos de três minutos. Leonardo avisou antecipadamente que não responderia a nenhuma pergunta.
Abatido, vestindo terno preto, camisa branca e já sem gravata, o irmão de Senna criticou a falta de segurança em Imola, especialmente em relação à curva Tamburello, onde o piloto sofreu o acidente.
"A gente não consegue compreender como não existia naquela curva nenhum tipo de proteção", afirmou.
Argumentou que um piloto, ao sofrer qualquer tipo de problema naquela curva, nada poderá fazer.
"Nos acidentes do passado e nos recentes, se os pilotos não morreram, foi por sorte. Ayrton não teve essa sorte. Ele bateu numa situação que foi fatal", disse.
Reclamou que se houvesse uma proteção, como pneus ou uma caixa de brita (pedregulhos), Ayrton estaria "vivo hoje e inteiro". E concluiu: "É isso que entristece a gente. Porque na F-1, parece que as pessoas só pensam em dinheiro", disse.
Leonardo ainda manifestou a surpresa da família com a recepção dos paulistanos.
"Sabíamos que o povo brasileiro o adorava muito. Mas não imaginávamos que o amor fosse tão grande. É muito mais forte do que a gente podia imaginar', afirmou.
Disse ainda que a família entendia que "Ayrton veio para cá para uma missão. Deus o trouxe. Deus o levou", disse.
Justiça
A família de Ayrton Senna poderá entrar com ação na Justiça para responsabilizar a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) pela não-interrupção da corrida no circuito de Imola, na Itália.
Leonardo, segundo a assessoria de imprensa da família, confirmou que Bernie Ecclestone, vice-presidente da FIA, disse para ele que Senna morrera logo após o acidente, mas que a notícia só seria dada após o encerramento da prova.
Segundo o assessor Charles Marzanasco, a família só discutirá eventual ação judicial contra a Fia após o enterro do piloto.
Em comunicado à imprensa, assinado por Leonardo, a família Senna lamentou "o comportamento de algumas emissoras de TV que transmitiram imagens ao vivo da cerimônia íntima", quando a família se aproximou do caixão pela primeira vez.
Os familiares pediram que nada fosse transmitido. "Imagens desse momento foram veiculadas, em desrespeito à nossa dor."

Texto Anterior: Multidão sempre homenageou seus mortos
Próximo Texto: Adriane chega tarde e chora
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.