São Paulo, quinta-feira, 5 de maio de 1994
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Obras raras se deterioram no Rio

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

O acervo da biblioteca da Escola de Música da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), no centro, que reúne milhares de obras raras, como o manuscrito original do Hino Nacional, está ameaçado de destruição pela ação do tempo.
A biblioteca da escola não apresenta condições adequadas para acondicionar as obras –muitas já contaminadas por fungos e bactérias. "Estamos perdendo grande parte da memória musical brasileira. Algumas partituras se esfarelam nas mãos", diz a professora de História da Música Vanda Bellard Freire, 47.
"O Brasil precisa saber que na biblioteca existe um acervo fantástico, quase perdido, que precisa ser salvo. Não há mais tempo a perder", diz a empresária e professora de piano Myrian Dauelsberg. A biblioteca tem obras que datam do século 16.
São cerca de 80 mil volumes –sendo 10 mil raros, como obras do compositor Carlos Gomes, manuscritos autógrafos do padre José Maurício e o acervo do antigo Real Teatro São João, que pegou fogo em 1824.
Segundo a professora Vanda, está guardada na biblioteca, na forma de manuscritos, grande parte da produção musical dos séculos 18, 19 e até 20. "O Rio foi o principal centro musical do Brasil no século 19. A maioria desses manuscritos não foi impressa, divulgada e nem tocada em público", diz Freire.
Além da falta de ares-condicionados, as obras estão amontoadas em estantes inadequadas para servir como arquivo. "Das obras raras, pelo menos um terço precisa ser restaurado. O Hino Nacional, por exemplo, está necessitando de restauração urgente", afirma o chefe da biblioteca, Paulo Roberto Gonçalves, 41.
A direção da escola está buscando apoio, junto ao governo e a iniciativa privada, para as reformas do prédio e a restauração de obras. Os recursos necessários para a restauração das obras raras chegam, segundo Freire, a US$ 2,5 milhões. Não existe ainda apoio financeiro à vista para esse trabalho.
A conta para as reformas das instalações da biblioteca –sem contar os aparelhos de ar-condicionado– é menos salgada: US$ 270 mil. Um pedido de apoio para as reformas acaba de ser enviado à Fundação Vitae, de São Paulo. "Esperamos que a Vitae se sensibilize com a nossa situação", afirma Freire.

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