São Paulo, quinta-feira, 5 de maio de 1994
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Brasil está distante do rádio via satélite

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Operam no Brasil 2.822 emissoras de rádio, mas não há nenhum projeto imediato de captação dos sinais retransmitidos por satélite.
Essa forma de transmissão permite, como já ocorre na Europa, que o mesmo ouvinte possa hoje escolher entre até 140 emissoras de seu país ou estrangeiras.
Em São Paulo, à beira do congestionamento herteziano (hertz é a medida das ondas de rádio), são captados os sinais de no máximo 40 emissoras.
O segredo da rádio via satélite está na possibilidade de uma segmentação mais apurada do mercado, para que cada ouvinte escute exatamente aquilo que gosta.
Digamos que só existam 30 mil paulistanos dispostos a ouvir, exclusivamente, programas com boleros da década de 50.
Com uma audiência tão pequena, nenhuma emissora teria fôlego empresarial para bancar o projeto.
Mas se distribuísse seu sinal para todo o país, haveria, em lugar de 30 mil apreciadores de bolero, digamos meio milhão.
O exemplo valeria para o público que só gosta de instrumental barroco, rap, ópera do século 18, lambada, obras de J. S. Bach (são mais de mil) ou rock dos anos 70.
Poderiam também surgir emissoras para minorias étnicas, homossexuais, ecologistas e até -dependendo do gosto- para a leitura de poesia modernista ou de romances alemães do século 19.
As duas distribuidoras de sinais de TV por assinatura ainda não entraram no mercado do rádio.
A TVA (Grupo Abril) mantém engavetada a idéia de distribuir 18 canais de áudio importados dos Estados Unidos e mais dois com música brasileira.
Mas a recepção se daria nos aparelhos de televisão, que ficariam com a tela desativada.
A TVA está mais preocupada, agora, em comprar os direitos de transmissão de novas emissoras estrangeiras de TV.
A Net Brasil (ligada à Globo) não tem projetos para essa área.
As emissoras de rádio hoje consomem em torno de 5% da publicidade brasileira, fatia menor que os 13% em 1970.
Pesquisa do Datafolha revelou em dezembro que entre 5h e 18h os paulistanos ouvem mais rádio do que assistem TV.
O satélite, mais especificamente o Brasilsat, é desde 1989 utilizado por oito programações privadas e duas públicas de rádio.
Trata-se de uma forma de permitir que certas emissoras que operam em rede tenham em todo o país a mesma programação.
É o caso da Transamérica, da Antena 1, da Bandeirantes ou da Aparecida, todas de São Paulo.
As duas emissoras públicas são a Rádio MEC (Ministério da Educação) e a Radiobrás.
A Cultura FM, que pertence à Fundação Padre Anchieta e só transmite música clássica, suspendeu sua assinatura do Brasilsat.
A Folha apurou que a emissora não conseguiu viabilizar uma rede que seria integrada por emissoras operadas por universidades ou entidades com fins culturais.
O projeto esbarrou na dificuldade essas outras emissoras públicas obterem autorização para começar a funcionar.
A prioridade do governo federal tem sido a agilização do funcionamento de emissoras comerciais. Há 213 concessões em FM que devem em breve entrar no ar.

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