São Paulo, quinta-feira, 5 de maio de 1994
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Coletâneas trazem crônicas de futebol

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O melhor da crônica esportiva já feita no Brasil chega aos leitores em dose dupla no próximo dia 13, com o lançamento dos livros "A Pátria em Chuteiras", de Nelson Rodrigues, e "O Sapo de Arubinha", de Mário Filho.
Além da paixão pelo futebol e do virtuosismo jornalístico-literário, há algo mais a unir os dois autores: eles foram irmãos.
Nelson Rodrigues (1912-80) dificilmente precisa de apresentação: considerado o maior dramaturgo moderno do país, tem tido sua vasta obra em prosa (romances, contos, crônicas, memórias) publicada aos poucos pela Companhia das Letras.
"A Pátria em Chuteiras" é uma espécie de continuação de "À Sombra das Chuteiras Imortais", coletânea de crônicas futebolísticas de Nelson que a editora lançou no ano passado, com grande sucesso (frequentou durante meses as listas de mais vendidos).
Mario Filho (1908-66), irmão mais velho de Nelson, é menos conhecido das novas gerações. Trata-se de uma injustiça: além de um cronista de primeira linha, ele foi uma das figuras mais importantes da cultura futebolística brasileira, sobretudo carioca.
Entre outros feitos, Mario Filho inventou o torneio Rio-São Paulo, no final dos anos 40, época em que o futebol dos dois Estados pouco se comunicava, e lutou para que o estádio do Maracanã fosse construído onde é, e não no remoto bairro de Jacarepaguá.
Hoje, numa justa retribuição, o maior estádio do mundo leva seu nome.
Para o jornalista Ruy Castro, organizador dos dois livros, Mario Filho praticamente inventou a torcida organizada. Instituiu concursos de hinos, inventou apelidos para os clubes, tornou o Fla-Flu um fenômeno de massa. "Foi um cartola sem pasta", define Castro.
Como cronista, Mario Filho sempre privilegiou o aspecto humano do esporte, traçando retratos poéticos e precisos de jogadores, técnicos, dirigentes e torcedores.
Em "O Sapo de Arubinha" há, por exemplo, uma crônica sua de 1956 sobre Telê Santana (então jogador do Fluminense) que estabelece de modo definitivo as características do atual técnico do São Paulo: a obsessão, a avareza (no plano pessoal) e a generosidade (na dedicação ao esporte).
Desde sua estréia no jornalismo, ainda nos anos 20, Mario Filho escreveu sucessivamente para "O Globo", o "Jornal dos Sports" e a "Manchete Esportiva".
Os textos de "O Sapo de Arubinha" são todos do período 1955-58 e, em sua maioria, foram extraídos da "Manchete Esportiva". De acordo com Ruy Castro, nessa revista semanal o autor tinha mais tempo e espaço para trabalhar o texto literariamente.
O que dá unidade ao livro, segundo seu organizador, é "a trajetória do torcedor brasileiro sonhando com a possibilidade de ser campeão do mundo".
Ruy Castro organizou também a coletânea de Nelson, "A Pátria em Chuteiras", como vem fazendo com toda a obra não-teatral do escritor.
Autor de uma biografia de Nelson Rodrigues que virou best seller ("O Anjo Pornográfico"), Castro deu maior ênfase, nesta segunda coletânea de crônicas futebolísticas, àquelas que tratam da seleção brasileira.
O que unifica os textos do dramaturgo sobre futebol, segundo o organizador, é a "sua procura do herói brasileiro". "Ele travou uma batalha permanente contra o derrotismo da crônica e a babação de ovo pelo futebol europeu."
Para Castro, o que diferencia os dois irmãos é que Mario era "mais repórter" que Nelson, acompanhando a vida dos clubes de perto.
Outra diferença seria a preferência clubística: Nelson era Fluminense roxo e Mario, ao que tudo indica, um flamenguista enrustido.
Tanto um como o outro, avalia Castro, teriam hoje farto material para suas crônicas: "O caso do Dener, o Serginho como treinador, o goleiro filho do Pelé –todos esses seriam assuntos que eles com certeza tratariam."

Livro: A Pátria em Chuteiras - Novas Crônicas de Futebol
Autor: Nelson Rodrigues
Organização: Ruy Castro
Preço: 11 URVs
Livro: O Sapo de Arubinha - Os Anos de Sonho do Futebol Brasileiro
Autor: Mario Filho
Organização: Ruy Castro
Preço: 13,50 URVs
Lançamento: dia 13, às 19h, no Espaço Banco Nacional de Cinema (rua Augusta, 1.475 Cerqueira Cesar, região central)

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