São Paulo, quinta-feira, 5 de maio de 1994
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Brizola sonha

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Leonel Brizola tem um sonho. "Eu uniria o PMDB mais do que qualquer outro", diz o ex-governador do Rio, virtual candidato presidencial do PDT.
Tradução: Brizola acha que, se Orestes Quércia ganhar a prévia do PMDB, acabará por admitir que não une o partido e que o conduzirá a um desastre eleitoral. Logo, vai-se compor com quem mais une o PMDB, pelo menos nos sonhos de Brizola, qual seja o próprio Brizola.
O ex-governador jura que não conversa com Quércia faz uns quatro anos, desde que, na campanha eleitoral de 1990, subiu ao palanque de Luiz Antonio Fleury Filho, então candidato de Quércia ao governo paulista.
Mas admite que há conversas nos escalões intermediários dos dois partidos. Deve haver, de fato: a conversa do governador com um pequeno grupo de jornalistas, anteontem à noite, no restaurante paulistano Rodeio, foi interrompida por dois peemedebistas baianos que não esconderam o interesse por essa eventual aliança.
Para Brizola, seria ouro sobre azul. O ex-governador é obrigado a elaborar uma complicada teoria conspiratória para explicar porquê é anêmico de votos em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país. Imagina uma conspiração dos setores conservadores, com epicentro justamente no Estado mais rico, e que envolve até o PT.
Para Brizola, o PT não passa de uma criatura dessa conspiração para quebrar a continuidade do que chama de movimento social. Ou, em outras palavras, para evitar que o trabalhismo, de que hoje ele é a expressão mais acabada, pudesse se recompor depois da derrota de 64.
O PMDB de Quércia, supostamente forte em São Paulo (ao menos no interior), serviria para dar um injeção de cânfora no brizolismo. Mas Brizola não recusa sequer a hipótese de ser apoiado pelo prefeito Paulo Maluf.
Tudo porque, pelos cálculos do líder pedetista, a disputa eleitoral vai acabar se resumindo a ele e Luiz Inacio Lula da Silva, do PT. Não que Brizola chegue a fazer essa afirmação assim tão cruamente. Mas todo o seu raciocínio induz a ela.
E FHC? "Inoperante", "é até pior do que o Lula", fulmina Brizola.

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