São Paulo, sexta-feira, 6 de maio de 1994
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Problemas inesperados

JANIO DE FREITAS

O ânimo do empresariado influente com a candidatura de Fernando Henrique está em queda vertical, acentuando-se espantosamente a sua velocidade nos últimos dias. A queda é facilmente constatável tanto em São Paulo como no Rio, seja por afirmações diretas, seja por consultas inequívocas sobre outras perspectivas eleitorais que pudessem, em lugar de Fernando Henrique, impedir a decisão eleitoral pró-Lula já no primeiro turno.
Não se identifica um fato preciso na origem da mudança de posição. O que parece haver é a interligação de vários fatores, cuja hierarquia de importância varia conforme o interlocutor. Três deles, porém, estão sempre presentes. Um é o esvaziamento da confiança no êxito do plano econômico. Na proporção em que o plano era considerado o propulsor da candidatura de Fernando Henrique, as reservas crescentes em relação à sua eficácia refletem-se na candidatura.
Não pelo PFL, mas pela maneira trapalhona como foi conduzida a aliança do PSDB com os pefelistas, é geral a convicção de que daí Fernando Henrique colherá mais perdas do que ganhos. Expondo-se como condutor desta operação que, depois de ter rachado o PSDB, levanta focos de rebelião até no PFL, Fernando Henrique está sendo reprovado no seu primeiro teste como articulador de uma grande manobra política. O que se deduz, quando abordado este fator, é a completa descrença na possibilidade de que tais problemas sejam remendados. Ou de que possam sê-lo sem concessões que desnaturariam a idéia de governo que Fernando Henrique pretende representar.
O terceiro fator soma as perdas previstas de Fernando Henrique e os ganhos, delas decorrentes, que José Sarney pode ter se sair candidato pelo PMDB. Perdas e ganhos expressos por fatias valiosas do PFL, a começar da Bahia de Antônio Carlos Magalhães e do Pernambuco de Marco Maciel, Roberto Magalhães e tantos outros. No caso do primeiro, com suas possíveis extensões ao esquema de propaganda televisiva em que Fernando Henrique tem se empenhado tanto, com suas frequentes visitas e ainda mais frequentes telefonemas para o Rio. Mais precisamente, para o Jardim Botânico.
A estas observações colhidas, junte-se uma mais recente. O PSDB vai pagar preço alto por ter faltado com os três votos que impediram a vitória da emenda, na revisão constitucional, em favor das empresas estrangeiras. E o ausente Fernando Henrique, cujo discurso era de defesa da emenda, vai pagar mais. A alegação de que saiu às pressas para o enterro de Senna não é bem arranjada: o enterro não foi anteontem, dia da votação, mas ontem.
Sacadores
A interpretação obtusa que um redator do "Jornal do Brasil" fez do que escrevi, no artigo "O defeito que matou Senna", não requer considerações porque o restante do seu texto exala a mesma obtusidade. Mas, não bastando tal característica para satisfazer o autor e o seu jornal, atribuem-me a afirmação de crença em uma "associação maquiavélica" entre Senna e a TV Globo. É mentira. Nem agora, nem no passado, escrevi ou disse tal expresão.
Se o "Jornal do Brasil" e seu redator estão interessados em outro tipo de associação entre os mesmos figurantes, deviam ter atentado para o "Jornal da CBN" (já que tiveram de desfazer-se das suas próprias rádios) das 18h do dia 3. A informação sobre o traslado do corpo de Senna, de Roma para Paris, continha este pormenor, literalmente: "No avião estavam Galvão Bueno, assessor da Senna Produções, e Betize Assunção, assessora de relações públicas". A CBN é do grupo Globo e seus jornalistas não são dados a mentiras ou outros atos de má-fé.

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