São Paulo, sexta-feira, 6 de maio de 1994
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Maílson e João Sayad defendem câmbio fixo

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Os ex-ministros Mailson da Nóbrega e João Sayad manifestaram-se a favor de uma taxa de câmbio fixa quando da introdução do real. A paridade seria US$ 1 igual a R$ 1, congelada.
Para Sayad, o governo deveria anunciar que o câmbio ficará fixo, e ponto final. Ou seja, o ex-ministro do Planejamento é contra a idéia, discutida na equipe econômica, de se anunciar um câmbio fixo mas por um período determinado, três meses, por exemplo.
Se isso for feito, pode surgir especulação em torno da futura desvalorização do real. E haveria pressões por aumento de preços e de salários por conta da futura desvalorização do real.
O ex-ministro Mário Henrique Simonsen também acha que, uma vez escolhido o câmbio fixo, o governo não pode pré-anunciar quando pretende descongelar.
Em conversas, Simonsen tem recorrido a uma piada para ilustrar o caso: dizer que o câmbio é fixo, mas só por um tempo, é como o noivo no altar prometer fidelidade eterna e logo em seguida fazer a ressalva de que pode vir a cometer adultério no futuro.
Moral da piada: mesmo que o adultério seja uma possibilidade na vida de qualquer casal, não tem cabimento dizer isso no momento do casamento. Ou: mesmo que o governo tenha que, no futuro, descongelar o câmbio e desvalorizar o real, não precisa antecipar isso no momento de lançar a moeda.
Mailson da Nóbrega destaca dois problemas que seriam provocados pela taxa flexível de câmbio (com o real variando acima ou abaixo do dólar, numa determinada faixa ou banda).
O primeiro: com salários fixos e o real se desvalorizando em relação ao dólar, indicando que há inflação na moeda, logo surgiriam reivindicações por indexação dos salários à taxa de câmbio. E indexação é a volta da inflação.
O outro problema: como há excesso de oferta de dólares na economia brasileira, o Banco Central fatalmente acabaria obrigado a comprar a moeda norte-americana pela cotação mais baixa.
Mas se apóia a taxa de câmbio congelada, Mailson acha que, ao contrário do modelo argentino, não deve haver plena convertibilidade. Ou seja, não pode ser livre e aberta a qualquer pessoa a troca de reais por dolares.
Em caso de recrudescer a crise política e econômica brasileira, circunstância possível num momento de eleições gerais, governo fraco e Congresso imprevisível, haveria uma fuga de capitais para o exterior. E o BC, sendo obrigado a vender dólares contra reais, estaria financiando a fuga de capitais.

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