São Paulo, sexta-feira, 6 de maio de 1994
Texto Anterior | Índice

O Brasil de Senna; Os chatos do esporte; O PT e Fiuza; Revisão exclusiva; Dinossauros

O Brasil de Senna
"Com a triste despedida de Ayrton Senna, o Brasil perdeu seu mais importante representante no cenário internacional. Vou mais longe, sem exageros: digo que Senna era o único a honrar o povo brasileiro diante do mundo. Resido em Nova Jersey, EUA, e posso atestar o que digo. Recebi a notícia de sua morte através de uma amiga americana; ela estava chocada e ainda me disse `agora vocês não têm mais nada'; peguei quatro táxis hoje, e os motoristas lamentavam o acontecido. Vi três bandeiras americanas a meio-pau. Sou um jovem idealista, patriota e apaixonado pelo Brasil, mas confesso que começo a desconfiar da sorte do nosso país."
Paulo Messias (Nova Jersey, Estados Unidos)

"Com imensa tristeza assistimos o sepultamento do ídolo Ayrton Senna. O povo brasileiro passa novamente por duas decepções, duas injustiças. A de perder uma pessoa que não se deveria perder, e a de assistir uma verdadeira exploração comercial sobre essa pessoa que o Brasil tanto admirou e amou."
Alexandre de Almeida (Guarulhos, SP)

"O Brasil pára, incrédulo e comovido, no velório de Ayrton Senna. Justíssima homenagem que a nação tributa ao seu maior ídolo esportivo. `Acelera, Ayrton! Vencer e vencer!'. E o Brasil ia ao pódio. Após a recente decepção com Collor, restou ao povo, sem cidadania, idolatrar o herói Senna. Porém, é preciso alertar que o poder organizado lucra no funeral de Senna. Tramam-se acordos pela continuidade com Fernando Henrique Cardoso. Daí a absolvição dos corruptos Ricardo Fiuza, Anibal Teixeira e, por certo, a de Íbsen Pinheiro. Senna! Lá do céu que cobre esta nação, uma mensagem: `Acorda, povão! Não se deixem enganar. Lutem contra o poder corrupto, onde o lucro está acima de todos os interesses'."
Ernani Miura (Porto Alegre, RS)

"Diante da tranquilidade do trânsito de São Paulo nestes dois dias de `dolce far niente' do funcionalismo público, o povo de São Paulo não tem mais dúvidas: o caos do trânsito de São Paulo é causado pelos carros oficiais."
Raul Maselli (São Bernardo do Campo, SP)

"Deus nos tira Senna. Nos deixa Fiuza, Collor, Quércia, Maluf, ACM... Definitivamente, Deus não é brasileiro."
Paulo Ganba (São Paulo, SP)

"Sou mais um brasileiro tristemente chocado com a morte do `nosso' Ayrton. A todos, porém, faço uma pergunta: e se ele não tivesse batido, mas vencido a corrida? A Globo teria tocado seu hino e estaríamos todos agora comemorando a virada rumo ao tetra. Uma festa. Alguém se lembraria, será, de um jovem austríaco chamado Roland Ratzenberger? Alguém se indignaria pelas causas da sua morte?"
João Whitaker (São Paulo, SP)

Os chatos do esporte
"Onomatopéias, anagramas, marchinhas de um corintiano, os calções do Telê Santana e autopropaganda da Ilustrada (para citar apenas a coluna da edição de ontem de Matinas Suzuki Jr.) não vêm conquistando a minha sedentária atenção. Resumindo, e em bom português: o sr. Matinas, enquanto cronista esportivo (não generalizemos), é um chato, o que quer dizer (para seguir o exemplo de didatismo imbecilóide com que a Redação da Folha vem tratando seus leitores) sem relevo e/ou maçante e/ou inseto anopluro da família dos pediculídeos que vive normalmente na região pubiana, que, por sua vez, significa saco escrotal, segundo o didatismo imbecilóide deste que vos escreve.
É gritante, nos últimos anos a necessidade do povo brasileiro de construir heróis. Isto, sem dúvida, agrava-se com a morte de outro chato, o Senna. Por favor, tomem cuidado com este garoto, o Ronaldo."
Luís Suzigan (São Paulo, SP)

O PT e Fiuza
"Gilberto Dimenstein está certo. O relatório do deputado Hélio Bicudo, que li com cuidado, é implacável. Demonstra plenamente os crimes contra o erário público e o decoro parlamentar praticados pelo deputado Ricardo Fiuza. Os argumentos da defesa foram esquálidos. Os deputados, liderados pelo PFL, que absolveram Fiuza julgaram contra os fatos."
Paulo Sérgio Pinheiro, diretor do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo –USP (São Paulo, SP)

"Li, estarrecido, a coluna de Gilberto Dimenstein de ontem, que fala de uma provável estratégia petista para, salvando o deputado Ricardo Fiuza, faturar politicamente em cima do PSDB. Embora esteja dito que é uma injustiça que o PSDB está cometendo com o PT e, particularmente, com Hélio Bicudo, mais injusto é o fato de haver sido abordado tal tema em sua coluna. Se houvesse um mínimo de procedência, caberia checar a notícia, e não colocá-la como uma `acusação'. O PT não fez nem nunca faria tal tipo de acordo."
Luiz Gushiken, deputado federal pelo PT-SP (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Gilberto Dimenstein – A insinuação sobre o relatório de Hélio Bicudo foi feita publicamente pelo senador Mário Covas, um dos principais dirigentes do PSDB. Apenas comentei o que considero algo grave. O deputado deveria ficar estarrecido com quem deu a entrevista e não com a coluna. Aliás, estarrecedor é como dirigentes do PT, clandestinamente, vibraram com a absolvição de Ricardo Fiuza, vendo nisso uma chance de faturar com o desgaste do PFL, atingindo o PSDB.

Revisão exclusiva
"Parabéns aos responsáveis pela idéia de uma assembléia revisora exclusiva, a fim de rever e aperfeiçoar nossa Carta Magna. Tenho plena consciência de que, a despeito do deslanche metastático de corrupção que se manifestou em diversas áreas do Congresso e dos governos de nosso país, temos um amplo rol de personalidades éticas e impolutas, à disposição da nação brasileira. Em horas tão críticas, elites falidas têm que ser substituídas por gente experiente, independente, preparada e sensível às aspirações de uma sociedade tão desigual quanto complexa."
Aziz Nacib A'Saber, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência –SBPC (São Paulo, SP)

Dinossauros
"Não contentes com o fracasso da revisão constitucional, os dinossauros se assanham. Como denunciou esta Folha, o ministro da Ciência e Tecnologia, José Israel Vargas, anuncia a criação de mais duas estatais. Elas não vão ajudar a tirar os hospitais da UTI, não vão melhorar o nível de ensino nas nossas escolas de ensino básico nem aumentar a segurança do cidadão nas grandes cidades. Serão estatais para produzir circuitos integrados e softwares, produtos que o capital privado tem condições de fazer melhor e mais barato."
Charles Magno Medeiros (São Paulo, SP)

Texto Anterior: Como era gostoso o meu francês
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.