São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Sarney diz que Quércia é `suicídio'

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-presidente José Sarney acha que, se o PMDB preferir o nome de Orestes Quércia ao seu, estará cometendo "suicício eleitoral".
Há dois meses, Sarney torrava o tempo em conversas amenas nos corredores que separam o seu gabinete do plenário do Senado. Hoje, com 14% das intenções de voto (veja pesquisa Datafolha às págs. 10 e 12), tem uma rotina de candidato.
Abaixo, os principais trechos de entrevista que deu ontem à Folha, pelo telefone:

Folha– Em 84, na sucessão do presidente Figueiredo, só com muito custo o PMDB aceitou que o sr. formasse a chapa com Tancredo Neves. No governo, seu relacionamento com o partido foi conflituoso. Hoje o sr. é a alternativa eleitoral mais viável do partido que o odiou tanto. Não é estranho?
José Sarney – Acho que o PMDB mudou. Com a redemocratização, ele deixou de ser uma confederação de partidos. Saíram os clandestinos que antes se abrigavam sob a legenda do PMDB; saíram do partido os dissidentes de São Paulo, que formaram o PSDB; saíram aqueles elementos mais radicais contra mim, como o caso do Waldir Pires, que foi para o PDT. Com a morte de Ulysses, evidentemente que eu passei a ser dentro do partido uma pessoa que tem um trânsito muito grande.
Folha– O sr. sempre somatizou os problemas. Tinha inclusive uma dermatite (inflamação da pele, ao redor do nariz) de fundo nervoso. Não teme perder a tranquilidade, com a volta das críticas?
Sarney– O que me motiva hoje, sobretudo, é o fato de que me considero melhor preparado para exercer a Presidência. Acho que tenho condições de prestar um serviço ao país. Me sinto em condições. É difícil a gente se sentir assim, com essa disposição, com essa preparação.
Folha– Suponhamos que o sr. vença a eleição presidencial. O que tornaria o Sarney-94 diferente do Sarney-84? Não veríamos o mesmo filme?
Sarney– Acho que os tempos são outros. A minha Presidência hoje teria uma função inteiramente diferente da passada, que foi uma gestão fundamentalmente política, com o objetivo de compor forças antagônicas e fazer a transição democrática. O governo estava destinado a uma missão política. Outra coisa: eu não era o presidente, mas o vice-presidente. Hoje, eu iria para a Presidência com um mandato popular e encarnaria a liderança política da presidência de modo a acabar com essa anarquia que estamos vivendo na política brasileira. Construirei um partido majoritário, que dê sustentação a um programa de governo.
Folha– Na última quinta-feira, o PMDB reuniu em Brasília os seus dirigentes regionais. Concluiu-se que Orestes Quércia é favorito nas prévias do partido, dia 15. E então?
Sarney– Acho que o partido pode tomar uma decisão que o povo não aprove depois. Isso será um suicídio eleitoral, um suicídio político. A escolha de qualquer candidato que não disponha de respaldo na opinião pública é um suicídio. A maneira moderna que temos de medir o humor da opinião pública são as pesquisas. E se o partido ficar insensível para isso, corre sérios riscos.
Folha– Lula é considerado um candidato de esquerda. O sr. encarnaria a direita?
Sarney– Acho que isso hoje não tem mais sentido. O mundo hoje não é dividido ideologicamente.

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