São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Piloto colecionou inimigos na pista

GEORGE ALONSO
DA REVISTA DA FOLHA

A escalada de Ayrton Senna ao topo da F-1 foi feita de duelos nas pistas e inimizades que só agora parecem esquecidas.
Em toda a sua carreira, o piloto se desentendeu com Martin Brundle, Keke Rosberg, Niki Lauda, Michele Alboreto, Nélson Piquet, Nigel Mansell, Alain Prost, Michael Schumacher e Eddie Irvine.
Na luta por títulos, não há anjos: desde os anos 80, toda vez que um piloto ameaça a hegemonia de outro, o pau quebra.
Não foi diferente com Senna, que para ocupar seu espaço no pódio e na mídia enfrentou principalmente o compatriota Piquet, o inglês Mansell e o francês Prost.
A disputa com Nélson começou quando Senna tentou entrar na Fórmula 1 via escuderia Brabham. Em 1984, Piquet teria vetado o ingresso de Senna. Piquet sempre negou tal veto.
Em 1986, com Senna ganhando fama, Piquet venceu o GP da Húngria, quando os dois tiveram um dos duelos mais bonitos da F-1, e disparou: "A próxima vez que ele tentar passar e me fizer correr risco, vai terminar o GP no ônibus da Lotus". Senna ficou em segundo lugar naquela prova.
Em 1987, Piquet apelidou Senna de "Freio de Mão" no GP do Japão, por impedi-lo de ultrapassar. Fez até um protesto oficial por Senna tê-lo ultrapassado na largada – segundo Piquet, em desacordo com o regulamento. "Só assim ele me passa", disse. Naquele mesmo ano, Senna levou um tapa de Mansell após o GP da Bélgica.
O auge do confronto Piquet-Senna foi no Rio em 1988. Piquet disse que Senna não gostava de mulher. Senna retrucou com um processo. Em 1990, disse sobre Catherine Valentim, casada com Piquet à época: "Conheci ela como mulher."
Com Mansell foram muitas as confusões. O começo foi em 1985, quando Senna fechou o inglês durante teste de pneus no autódromo de Jacarepaguá, no Rio.
Em 1992, no duelo do título, Mansell declarou no Canadá que Senna "jogava sujo". Acusou o brasileiro de fechá-lo na pista e concluiu: "Não falo nada mais sobre quem não há nada de bom para falar."
O maior inimigo, porém, foi Prost. O conflito entre os dois começou em Imola, em 1989. Companheiros na McLaren desde o ano anterior, o brasileiro teria, segundo Prost, rompido acordo feito nos boxes.
Pelo acordo, Prost e Senna ficavam proibidos de ultrapassar um ao outro antes da primeira curva do GP. Senna passou, venceu e disse não querer saber do francês.
Nos GPs de 1989 e 1990 do Japão, os dois se chocaram. Foi o recurso que usaram para ganhar o título: o de 1989 ficou com Prost e o de 1990, com o brasileiro.
Nesse Fla-Flu da F-1, Senna acusou Jean-Marie Balestre, presidente da Fisa (Federação Internacional de Automobilismo Esportivo), de favorecer Prost em 1989.
Em 1993, Prost foi para a Williams e Senna percebeu que a McLaren perdia a supremacia absoluta. O brasileiro afirmou que Prost vetara seu nome para uma eventual parceria na escuderia inglesa.
Prost rebateu: "Não impedi a contratação de ninguém, mas me reservei o direito de trabalhar com quem eu quisesse".
A última briga foi em 1993, no Japão. Senna esmurrou o irlandês Eddie Irvine, acusando-o de dirigir perigosamente.
Este ano, não se indispôs com adversários nem terminou nenhuma prova.

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