São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Novas regras do BC reduzem o crédito

Bancos terão que aumentar capital para emprestar

NILTON HORITA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os bancos vão perder sua capacidade de crédito em US$ 80 bilhões por causa de um projeto do Banco Central (BC), que pretende ampliar o controle sobre essas operações.
As instituições financeiras de pequeno porte, que operam com capital mínimo de US$ 4,5 milhões, terão de elevar o investimento para continuar no mercado.
As medidas fazem parte de um conjunto de quatro regulamentações do BC para adequar o sistema financeiro ao fim da inflação.
"O primeiro ponto de preocupação é a sociedade", explica Cláudio Mauch, diretor de Normas do BC. "Queremos dar segurança a quem deposita."
O corte na capacidade de crédito dos bancos ocorre pela adaptação das normas brasileiras ao Acordo da Basiléia, fórum internacional que mudou a forma de se calcular os volumes máximos dos empréstimos.
Todos os países desenvolvidos já obedecem aos critérios da Basiléia. Pela regra atual, os bancos poderiam emprestar até US$ 330 bilhões (só emprestam US$ 150 bilhões, hoje).
O valor representa 15 vezes o patrimônio total dos bancos. O novo sistema reduz a correspondência para 12,5 vezes o patrimônio. A possibilidade de empréstimo cai, assim, para US$ 250 bilhões.
"Os bancos financiam o déficit público", afirma Mauch. "Com a estabilização, vão aplicar no setor real, produtivo, e o que se quer são medidas preventivas."
Na Argentina, a estabilização econômica trouxe crescimento dos empréstimos e consequente inadimplência. É isso o que o BC quer evitar.
O BC não pretende proibir os bancos que quiserem aumentar o volume de créditos, mesmo impedidos pelas novas regras.
Para isso, porém, terão de aumentar o seu capital. Simulação feita pelos bancos mostrou que, à exceção do Bradesco, Itaú e Banco Mercantil de São Paulo, os demais estariam, pelas novas regras, no limite da capacidade de crédito.
"Não tem muita folga no sistema", afirma Roberto Barreto, vice-presidente do banco Econômico.
Longo prazo
O fim da inflação vai direcionar a busca da rentabilidade em operações de crédito.
"Operar sem inflação significa alongar os prazos", acrescenta Barreto. "O crédito vai se multiplicar no sistema e vamos atingir o limite de US$ 250 bilhões rapidamente."
O alongamento de prazo vai provocar o giro menor do dinheiro. Hoje, a maior parte dos empréstimos é feita pelo prazo de 30 dias.
Ou seja, de 30 em 30 dias o dinheiro volta para o banco reemprestar para outro agente. Com prazos mais longos, o dinheiro demora mais para circular.
As medidas não têm relação com o contingenciamento de crédito que o governo pretende fazer nos primeiros meses do real.
Mas reforça o objetivo de dotar o sistema de controles mais seguros. Por isso, o BC quer divulgar as novas regulamentações simultaneamente à criação do real.
"O novo sistema não tem incompatibilidade e está inserido no processo de estabilização", explicou Mauch.
Segundo ele, os bancos terão de obedecer a critérios mínimos de capitalização. Quem ficar abaixo do estabelecido deverá se retirar do mercado.
"Aqueles que quiserem ampliar sua capacidade operacional, deverão investir mais no seu negócio", afirma.

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