São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Fabricantes acusam cientistas de má-fé

CLAUDIO CSILLAG
DO ENVIADO ESPECIAL A MIAMI

O volume da "pesquisa acusatória" feita pelo establishment médico internacional não intimida os fabricantes de cigarros.
Na verdade, eles utilizam muitas das conclusões científicas –e políticas– como arma na guerra a favor do direito de fumar sem ser perturbado.
Além de negar que a nicotina vicie, eles não admitem que o fumo faça mal à saúde do fumante e muito menos à do fumante passivo –o não-fumante que respira a fumaça do cigarro.
"Tudo o que se pode dizer é que existe um risco associado ao tabagismo, sem relação de causa e efeito", disse Sharon Boyse, consultora científica sênior da British American Tobacco (Souza Cruz, no Brasil), em um seminário sobre o assunto realizado em Miami, há duas semanas.
Ou seja, slogans como "o fumo mata" são falaciosos e tiram a credibilidade de quem os alardeia, segundo eles.
O que mais revolta os fabricantes é a conclusão da Agência de Proteção Ambiental (EPA), órgão do governo norte-americano, de que a fumaça do cigarro causa câncer em não-fumantes.
Aqui, eles são mais incisivos: a conclusão é ilegal e só foi obtida graças a muita má-fé científica. Tanta, que eles estão processando a EPA.
Segundo Thomas Borelli, diretor de Política Ambiental e Científica da Philip Morris dos EUA, o risco de câncer com o fumo passivo é mínimo.
"É menor do que o risco associado a tomar leite pasteurizado", afirma.
Depois da conclusão da EPA, pipocaram leis nos EUA cerceando a liberdade de fumar em público. No processo contra a agência, os fabricantes querem invalidar a conclusão antes que leis mais rigorosas sejam promulgadas, como a que o deputado Henry Waxman quer ver aprovada.
Os fabricantes de cigarros também negam as acusações de que manipulam os teores de nicotina nos cigarros. Um dos acusadores foi o canal de televisão norte-americano ABC, que agora está sendo processado pela indústria em US$ 10 bilhões.
Por fim, a indústria do tabaco refuta insinuações de que suas campanhas publicitárias visam atrair novas pessoas ao tabagismo.
As propagandas servem, dizem, para fazer os fumantes mudarem de uma marca de cigarro a para a outra.

O jornalista CLÁUDIO CSILLAG viajou a Miami a convite da Philip Morris Marketing.

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