São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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– De todos os poemas que escreveu, qual é o que inspira maior "orgulho autoral"?

Drummond: Orgulho autoral?...
– É uma expressão que Nelson Rodrigues gostava de usar...
Drummond: Você é um admirador de Nelson Rodrigues, não é? Nelson Rodrigues não morria de simpatias por mim. Toda vez que fazia uma peça de teatro ele punha um incesto ou coisa assim. Naquele tempo, o incesto no Brasil era um pecado terrível. A censura logo metia o pau em cima dele. E ele apelava para o Prudente de Moraes Neto, apelava não sei se a Antonio Callado, a Manuel Bandeira, a mim. E sempre protestávamos contra "aquele absurdo da censura", etc. Um dia, ele fez uma peça e me convidou a assistir. Havia um parto em cena, uma mulher gemendo no escuro. Achei aquilo de muito mau gosto. E, na saída, ele encarregou um repórter da "Última Hora" de me entrevistar. Eu não quis dizer que não tinha gostado da peça, porque era desagradável para ele. Nelson era muito suscetível. Ele não gostou disso. A partir de então, passou a me atacar no "Correio da Manhã".

Trecho de "O Dossiê Drummond"

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