São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Grande empresa gera pequenas a seu redor

NELSON ROCCO
DA REPORTAGEM LOCAL

A eliminação de departamentos e a terceirização de processos e serviços feitas por grandes empresas estão criando uma nova geração de "empresas-filhotes".
Terceirização significa repassar partes do trabalho para outras empresas. O objetivo é reduzir quadros e aumentar a agilidade de uma grande organização.
Ao mesmo tempo em que enxuga sua estrutura (demite), a "empresa-mãe" estende a mão para as pequenas que estão nascendo e as ajuda a dar os primeiros passos.
A negociação entre as partes raramente é traumática. "O simples fato de um ex-funcionário bater à porta da antiga empresa já desperta interesse", afirma o consultor José Antonio Rosa, 41.
Ele diz que, obtido o aval do ex-empregador, pode-se procurar outros clientes. É necessário apenas tomar cuidado para não ir direto a um concorrente.
A transmissão de tarefas pode envolver as chamadas atividades-meio, como serviços de limpeza, restaurante, transporte de funcionários e manutenção.
Há casos, no entanto, em que empresas repassam para terceiros parte da produção, como peças e componentes –as atividades-fins.
O risco de se tornar "filhote", segundo consultores e empresários, é ter a grande empresa como único cliente. Isso configura uma perigosa relação de dependência.
José Roberto Schettino Mattos, 35, diretor da Andersen Consulting (consultoria empresarial) diz que o ideal é comprometer até 50% do potencial de produção com a "empresa-mãe". O restante deve ser pulverizado entre outros clientes.
Mattos vê outro desafio: a manutenção da qualidade, já que a empresa que está nascendo tem dificuldades para adquirir equipamentos e tecnologia avançados.
Para ele, é preciso que a grande organização forneça recursos necessários para que a pequena possa prestar serviços de qualidade.
O diretor da Andersen Consulting diz que o empreendedor deve verificar se seu produto ou serviço tem mercado além daquele criado pela "empresa-mãe".
Recém-nascidos
A MK Tática é uma recém-nascida. Cecília Rotemberg, 30, dona, abriu a empresa em fevereiro depois de deixar o Grupo ATP.
Rotemberg e a sócia Simone Certain, 26, prestam serviços de organização de eventos e feiras. Fazem também todo o trabalho de marketing para o ex-empregador.
"Por já me conhecerem, os diretores da ATP são muito exigentes. Por confiarem na empresa, avalizam nosso trabalho", diz.
Isu Fang, 53, diretor-superintendente do Grupo ATP, diz que a ex-funcionária já havia chegado ao topo de sua carreira na empresa, e a melhor saída para seu crescimento era se lançar como empresária.
A MK Tática tem feito trabalhos esporádicos para outras empresas, mas a ATP é sua principal fonte de faturamento.
A SPZ Serviços faz trabalhos de limpeza, copa, recepção e manutenção para a Tec Toy. Elpídio Spiezzi Júnior, 36, abriu a empresa há três meses.
Spiezzi diz que tem recebido apoio da empresa onde trabalhava para resolver os problemas que surgem em seu novo negócio.
Adolfo Menezes Melito, 41, diretor-administrativo da Tec Toy, afirma que seu "filhote" tem usado, inclusive, o sistema de computadores da empresa.

LEIA MAIS
sobre terceirização na pág. 9-3.

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