São Paulo, segunda-feira, 9 de maio de 1994
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Doutorado sanduíche

TEREZA HALLIDAY

Em recente simpósio nacional sobre doutorado em comunicação social, em São Bernardo do Campo, mencionou-se como grande incremento à formação dos futuros doutores brasileiros o sistema de "doutorado sanduíche", o qual permite ao aluno inscrito em programa de doutorado no Brasil passar parte do seu tempo de estudo e pesquisa em universidade estrangeira, voltando para completar sua tese e obter seu título na universidade brasileira.
Os principais interessados neste arranjo são as agências financiadoras de bolsas, em busca de um atalho rápido e mais barato para os dispendiosos doutorados no exterior. E têm conseguido a adesão entusiasmada de coordenadores de programas e alunos. Cada um sabe como este arranjo lhe convém.
Não conheço os doutorados europeus. Mas, como ex-mestranda e ex-doutoranda em duas universidades dos Estados Unidos, penso que o professor americano, a não ser que esteja profundamente interessado no Brasil como objeto de estudo ou potencial para "descolar" uma viagem, não terá com o bolsista de passagem o mesmo envolvimento e atenção que tem com um orientando americano ou estrangeiro.
Dentro de uma cultura onde "time is money", suas obrigações acadêmicas obedecem a uma hierarquia de prioridades. O doutorando estrangeiro dificilmente será uma delas. E olhem que professor americano é, via de regra, mais acessível e menos formal do que orientadores alemães ou franceses...
Os defensores do "doutorado sanduíche" têm um forte argumento no aspecto do acesso à informação para estudo e pesquisa. Ser usuário de uma daquelas magníficas, estupendas, fantásticas bibliotecas de universidades norte-americanas, mesmo por um mês, é uma experiência marcante para o resto da vida. Mas, no caso dos engajados, isto é apenas uma parte do cardápio. O que me faz lembrar de uma estória contada no meu tempo de colégio.
Não querendo ou não podendo investir numa refeição de alta qualidade para seus alunos internos, os donos do colégio amarravam uma corda no teto do refeitório. Na hora do almoço, prendiam na ponta pendente da corda um suculento pedaço de filé de alcatra. Aos alunos cabia puxar a corda para perto do nariz e aspirar o cheiro do filé, enquanto comiam do prato o feijão com arroz. Passavam em seguida a ponta da corda com o inebriante assado para o nariz do vizinho de mesa. Era como se estivessem tendo um banquete. Esta anedota me parece a cara do "doutorado sanduíche".

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