São Paulo, segunda-feira, 9 de maio de 1994
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Hammond traz herança de Hendrix a SP

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Show: John Hammond
Onde: Bourbon Street Music Club (r. dos Chanés, 127 Moema, zona sul, tel. 61-1643
Quando: De amanhã a quinta, às 22h; sexta, às 23h
Ingresso: Na terça, de 12 a 30 URVs, mais 6 URVs de consumação mínima; de quarta a sexta, de 15 a 35 URVs, mais 6 URVs de consumação

Quem é o herdeiro natural de Jimi Hendrix? John Hammond, dirá mais da metade dos 4 milhões que tocam guitarra nos EUA.
Hammond vem ao Brasil para se apresentar, a partir de amanhã, no Bourbon Street Music Club.
Mas nem só da herança de Hendrix sobrevive esse nova-iorquino de voz rouca de Bourbon. Hammond injetou no blues/rock, nos anos 70 e 80, elementos exorcizados ao longo do tempo: é dele a idéia de que duetos de gaita com "bottlenecks" (dedeiras de aço) já seriam suficientes para ressuscitar o pai do blues, Robert Johnson.
E essa genialidade, acrescida de rockabilly e zydeco (o novo estilo de New Orleans), Hammond vai interpretar lançando aqui seu novo disco, "Trouble no More". Eis o que ele disse à Folha, falando por telefone, de Nova York.

Folha - O que você vai trazer para o show?
Hammond - Preparem-se porque vou tocar coisas de toda a minha carreira, e veja que isso representa 32 anos de música. Conheço muitas canções, depois desses anos todos, e vou acabar decidindo na hora o que devo escolher.
Folha - Que tipo de blues você vai interpretar?
Hammond - Vai ser um show com muito "country blues", com muitas canções do pai do blues, Robert Johnson, muitos metais. O blues é a música clássica dos EUA, é a raiz do jazz e do rock and roll, e da pop music também. É uma coisa que vai durar para sempre, mesmo que algumas vezes não seja tocado nas grandes rádios. O blues é o sangue vivo da música norte-americana. Cada geração trará sua colheita de novos intérpretes de blues.
Folha- Quais suas influências?
Hammond - Toco há tantos anos, que o que faço já é parte de mim. Tenho minha própria maneira de tocar, está em mim, tenho minha forma de interpretar tudo.
Folha - Na sua canção "It's Too Late Brother" você adere ao mais novo estilo de New Orleans, o zydeco. Você admite essa nova influência?
Hammond - Não exatamente. Aprendi essa canção de Little Walter, um bluesman que toca gaita. Ele fez a canção com arranjos que lembram muito o zydeco. Mas ainda continuamos na linha básica da expressão do blues. Também tenho adotado muito de rockabilly, que é uma forma de inovar. Posso chamar de "deep blues" isso tudo.
Folha - Você tocou com Hendrix, mas não se converteu num herói da guitarra...
Hammond - Para mim, é muito importante ter espaços de tempo na música. Não se pode preencher tudo com notas e sons. Às vezes, os espaços são muito mais importantes do que as notas. Essa é a forma pela qual sempre tentei me expressar, com um equilíbrio na dinâmica da música, para que ela tenha eficiência harmônica.
Folha - O que mudou no blues de Hendrix para cá?
Hammond - Há novas perspectivas, muitas novas terminologias. Vejo que todas as culturas do mundo hoje estão relacionando cada vez mais. Acho que o termo "world music" é uma boa descrição. No meu caso, sou um defensor da música clássica dos EUA, o folk e blues.

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