São Paulo, segunda-feira, 9 de maio de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Venha quem vier

Ainda não se sabe qual será a garantia de valor da nova moeda, o chamado lastro. Cogita-se de ancorar o real ao dólar, seja fixando a taxa de câmbio (um real valeria um dólar), seja reservando quantia de dólares no Banco Central proporcional aos reais emitidos.
Essa é uma discussão econômica bastante técnica. Antes dela, entretanto, impõe-se a identificação do que se poderia denominar um "lastro político" da nova moeda, uma espécie de reserva de credibilidade sem a qual nenhuma política econômica é capaz de prosperar, por mais correta que seja do ponto de vista estritamente técnico.
O suporte fundamental deveria estar no Congresso. Hoje, com o anúncio da data para a criação do real, a busca desse apoio torna-se ainda mais crucial. Tão crucial como foram até agora a busca do ajuste fiscal, da revisão constitucional e da aprovação da própria medida provisória que criou a URV. Como se tem visto, em todas essas instâncias o governo tem enfrentado imensas dificuldades, quando não é abertamente derrotado.
A partir desta semana as últimas chamas de esperança quanto à obtenção de algum lastro político para a nova moeda voltarão a brilhar. Em primeiro lugar, volta à apreciação dos parlamentares a MP da URV, reeditada. Paralelamente, uma última e tênue expectativa de desenlace da revisão constitucional estará em jogo, especialmente a possibilidade de uma reforma tributária. Finalmente terá o Congresso de se debruçar (antes tarde que nunca) sobre o Orçamento de 1994.
Nos três casos está em jogo a criação de condições de governabilidade para o novo presidente, seja ele quem for, venha de qual partido vier. O que se exige do Congresso não é a legitimação a posteriori de medidas arbitrárias, nem mesmo a definição de políticas alternativas (cabe ao governo governar), mas afirmar-se como espaço onde se constrói a governabilidade.
Sem algum respaldo à tentativa de estabilização, sem um mínimo de resultados na revisão constitucional e sem Orçamento equilibrado qualquer política econômica estará condenada a ser nada mais que a administração de ilusões.

Texto Anterior: PMDB julga Quércia
Próximo Texto: Câmbio sem regras
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.