São Paulo, segunda-feira, 9 de maio de 1994
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O PSDB está nu

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA – Os observadores mais crédulos sempre enxergaram o PSDB como um oásis de castidade no Saara de promiscuidade em que se transformou nosso cotidiano político. As evidências, porém, esfregam em nosso rosto o óbvio: não se pode frequentar o bordel impunemente.
Há hoje dois PSDBs. Um deles, público, faz política de fraque, na sala de visitas. O outro, só agora revelado, prefere articular no quarto, nu, disposto a tudo. A aliança com o PFL revelou que esse PSDB secreto é o verdadeiro, o legítimo.
O casamento do pragmatismo do PSDB do quarto, recém-descoberto, com o instinto de sobrevivência do velho PFL de sempre exibe-nos uma evidência insofismável: os políticos podem ser como as prostitutas. A diferença está na mercadoria que cada um oferece e no michê que cobram. Elas trocam o corpo por uns trocados. Eles dão a alma pelo poder.
A incoerência escorre pelos dedos dos novos tucanos como o dinheiro transpassa as mãos de um autêntico Onássis. Em 84, Fernando Henrique Cardoso integrava a ala do PMDB que se contorcia ante a necessidade de coligação com a dissidência do PDS, mais tarde batizada de PFL. Só com muito custo aceitou-se José Sarney como vice de Tancredo Neves.
Na sequência, juntou-se o que havia de mais "ético" nos quadros de um PMDB prostituído para fundar-se o PSDB. Hoje, o PSDB do quarto atraca-se gostosamente ao PFL que antes lhe dava náuseas. Mais: disputa com alegre interesse a simpatia de um Sarney inesperadamente popular.
O casamento do PSDB com o PFL é uma espécie de aliança democrática sem causa. Na sucessão do general Figueiredo, os supostos mocinhos uniram-se aos presumidos bandidos em nome da redemocratização, da derrubada de um regime de exceção.
Agora não há fantasmas a serem exorcizados. Nossa democracia é forte o bastante para resistir a um Itamar Franco. A união de tucanos e pefelistas surge sem a roupagem patriótica de 84. Devagarinho, o país vai sendo apresentado a um PSDB completamente nu. Um partido que manda às favas a coerência.

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