São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 1994
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Por um sistema eleitoral racional

JOAQUIM P. DE ARAÚJO

O Brasil dispõe de valores humanos de inegável qualidade. Grande parte desses homens –a sua quase totalidade– mantém-se afastada das lides políticas.
Alguns deles não querem repetir as amargas experiências vividas. É por todos reconhecido que os critérios adotados para a escolha dos dirigentes políticos não são racionais; acabam por indicar os menos aptos. O sistema eleitoral deve ser concebido e estruturado de tal forma que permita ao eleitor esclarecido optar livremente, escolhendo os melhores candidatos.
Entretanto, não se pode considerar como eleitores esclarecidos os analfabetos, semi-analfabetos, menores de 18 anos.
Mas é preciso governar o país. Para governar é preciso escolher os governantes. Mas escolher os governantes, como? Seria porventura um bom caminho esse que se pratica, de obrigar milhões de eleitores desinformados, despreparados, despolitizados, a votar em candidatos que eles não conhecem?
Mal estruturados, os partidos não se ajustam à sua finalidade, não representam o seu papel. São exageradamene numerosos e acabam reunindo quantidade muito elevada de candidatos, o que aumenta a confusão e faz baixar o nível dos pretendentes às funções eletivas.
Todo esse quadro concorre para afastar os melhores homens do cenário político. Esse fato representa perda irreparável, particularmente na fase atual, em que o país atravessa um caminho propício para o seu aprendizado político.
O voto facultativo, a abolição do voto direto para presidente e governadores, o voto distrital, a exigência de melhor qualificação para o eleitor, a redução do número de partidos são mudanças que concorrerão para sanar deficiências que pesam sobre a nossa democracia.
Os senhores congressistas sabem perfeitamente que as grandes democracias modernas não praticam o voto direto para a escolha dos principais dirigentes. Por que estranha razão o Brasil, que dispõe de tão limitada e descontínua vivência democrática, terá de se expor aos azares de um sistema ainda não consagrado e repudiado pelas nações mais adiantadas?
A escolha do presidente da República é ato sério demais, importante demais para o Brasil e para os brasileiros. Não pode depender dos caprichos da sorte. É lesivo ao país e à dignidade de seu povo prosseguir nesse caminho.

JOAQUIM PROCÓPIO DE ARAÚJO, 74, engenheiro, é conselheiro e ex-presidente do Centro Democrático dos Engenheiros.

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