São Paulo, quarta-feira, 11 de maio de 1994
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Empresariado apóia mudança de discurso

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão do presidenciável Fernando Henrique Cardoso (PSDB) de fazer um discurso mais à esquerda, com ênfase nas questões sociais, teve boa acolhida junto ao empresariado.
A maioria dos empresários ouvidos ontem pela Folha apóia a mudança no discurso do candidato tucano. Mas o coordenador do PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais), Emerson Kapaz, vê dificuldades.
Para Kapaz, a coligação entre PSDB e PFL em torno de FHC inviabiliza o discurso social do candidato. "O PFL tem proposta neoliberal, que prioriza o mercado, e não a questão social", diz.
Luís Eulalio de Bueno Vidigal Filho, ex-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), diz que FHC optou pelo óbvio. "Se não tiver preocupação com o social, não tem condição de ser candiato", diz.
"A opção pelo social não é uma postura de esqerda. É uma postura lógica. É o mínimo que tem que ser feito", afirma Vidigal.
Joseph Couri, presidente do Simpi (Sindicato da Micro e Pequena Indústria de São Paulo), diz que a pregação social é o "caminho correto" de quem quer ser candidato a presidente.
Segundo Couri, FHC tem de apresentar propostas sociais e falar ainda em redistribuição de renda. "É o mesmo discurso do Bill Clinton. O social não é discurso exlcusivo da esquerda", afirma.
"Prioridade social não é guinada para a esquerda. A direita também se preocupa com o social", afirma Manoel Pires da Costa, presidente da Bolsa Mercantil de Futuros de São Paulo.
Para Costa, FHC está "sintonizado" com o social desde o início de sua campanha. "Fernando Henrique fala em acabar com o Estado-gerente para poder atender melhor a questão social", declara.
Rompimento com FHC
Apontado como importante aliado de FHC, Emerson Kapaz poderá romper com o candidato tucano. "A aliança com o PFL e a escolha do vice (senador Guilherme Palmeira, PFL-AL) desfiguraram a candidatura", diz.
"Não consigo mais compactuar como algumas pessoas que fizeram parte do passado triste deste país. Agora, nós queremos extirpá-los", afirma, referindo-se ao PFL.
"Conseguiram achar um vice que é de Alagoas e aliado de Fernando Collor. A escolha não poderia ter sido pior", diz.
Para Kapaz, a atuação do PFL na absolvição do deputado Ricardo Fiuza (PFL-PE) também constribuiu para seu afastamento de de FHC. "Isso refletiu de forma muito pesada", afirma.
Kapaz diz que não votará mais em FHC. "Vou manter uma postura neutra no primeiro turno e esperar para me posicionar no segundo turno", declara.

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