São Paulo, quarta-feira, 11 de maio de 1994
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Mia Farrow supera crises com trabalho

A atriz fala sobre seu papel em "Widows' Peak", seu novo filme, sua infância e a relação com os 12 filhos
Do "Corriere della Sera"
Do controvertido casamento com Frank Sinatra (30 anos mais velho que ela) à atribulada separação de Woody Allen, a vida de Mia Farrow tem sido constantemente marcada por crises e escândalos. Mas a atriz segue em frente e estréia nesta sexta-feira, nos EUA, seu filme mais recente: "Widows' Peak", de John Irvin.
Farrow diz sempre ter superado as crises de sua vida com trabalho. E trabalho não tem faltado. Além do filme de Irvin, está escrevendo sua autobiografia, em que promete contar toda a verdade. Para isso recebeu US$ 3 milhões.
Também foi convidada para estrelar "Wolf", ao lado de Jack Nicholson, mas disse não ao diretor Mike Nichols. Preferiu atuar sob a direção de Irvin na história da solteirona que se vinga das injustiças a que foi submetida, ao lado de Joan Plowright e Natasha Richardson.
Nesta entrevista concedida ao jornal italiano, Farrow falou sobre sua relação com seus 12 filhos (um natural e 11 adotivos), sobre sua carreira e seu instinto de sobrevivência.

Pergunta - A superação das crises se deve a seu instinto de sobrevivência ou a seu gênio camaleônico?
Resposta - Aos dois. As tragédias de minha vida me ensinaram a me adaptar. Quando tinha nove anos, contraí paralisia infantil. Apenas eu, em sete irmãos.
As pessoas estavam aterrorizadas com a doença, já que naquele tempo não se sabia ainda como era transmitida. Assim deixei minha vida em Beverly Hills e fui para um quarto de hospital.
Meu pai e minha mãe podiam me visitar duas vezes por semana e me ver apenas atrás de um vidro. Vivia com o terror de ter contaminado meus irmãos e colegas.
Este mesmo medo levou meus pais a mandar o cachorro embora, secar a piscina, pintar a casa e trocar todos os móveis.
Pergunta - O que a doença lhe ensinou?
Resposta - O instinto de sobrevivência, que me serviu mais tarde. Aos 12 anos de idade, quando meu pai (o diretor John Farrow) transferiu a família para a Espanha, onde estava filmando.
Depois para a Inglaterra, Califórnia e Nova York, sem me dar jamais o tempo de consolidar uma amizade.
Aos 13 anos, uma nova prova: a morte de meu irmão maior em um acidente aéreo. E depois aos 17, quando meu pai morreu e eu fui obrigada a trabalhar, já que minha família estava sem um centavo.
Pergunta - Como nasceu seu papel em "Widows' Peak"
Resposta - Há dez anos, Hugh Leonard, um grande amigo de minha mãe (a atriz Maureen O'Sullivan), escreveu o roteiro depois que ela revelou seu desejo de fazer um filme comigo.
Minha mãe me imaginava no papel que hoje pertence a Natasha Richardson, mas que não pude fazer devido a compromissos pessoais.
Adoro o papel de senhora O'Hare, uma verdadeira mulher que se vinga daqueles que arruinaram sua vida.
Pergunta - Qual a sensação provocada por este seu retorno à Irlanda?
Resposta - Foi como voltar para casa. Minha mãe nasceu na Irlanda, onde vivem meus primos e três tias. Passei muitos verões na Irlanda, quando era pequena, e gostaria muito de viver ali. Quando ficar velha, quero arranjar minhas coisas e realizar um sonho.
Pergunta - Porque nos últimos anos você só trabalhou com Woody Allen?
Resposta - Nunca fui ansiosa e me contentava em fazer um filme por ano com ele. Woody sempre me desencorajou a entrar no circuito comercial e sempre me convenceu a esnobá-lo. E eu não queria abandonar meus filhos nem ficar longe de Woody.
Pergunta - Você se arrepende?
Resposta - Não. Me sinto uma felizarda por ter realizado todos aqueles filmes com ele, alguns muito bonitos. Woody me deu as oportunidades que, de outra forma, eu não teria tido. Certamente, eu poderia ter sido mais produtiva e pensado mais no dinheiro. Hoje eu e meus filhos seríamos menos pobres.
Pergunta - Não foi difícil, depois de tantos anos, mudar de diretor?
Resposta - Nada é tão evidente como parece. Não é verdade que a relação entre eu e Woody era tão clara que não necessitasse explicações no set de filmagem.
Mas descobri que os diretores em geral falam muito pouco e lhe deixam trabalhar. Menos Polanski, que é ator e que gostaria de fazer todos os papéis.
O trabalho de ator é sempre muito difícil. Não desejo isso para meus filhos. Uma vida dura e cruel, de fome e desemprego.
Pergunta - Como é a relação com seus filhos
Resposta - Eles deram significado para a minha vida. Nunca poderei agradecer o bastante por isso. São tudo para mim.
O maior completa 24 anos este mês. O menor, tem três meses e as vezes me deixa acordada toda noite. São 24 anos que monto peças da Lego e troco fraldas.
Pergunta - Porque depois de seu rompimento com Woody Allen dois de seu filhos mudaram de nome?
Resposta - Dylan foi a primeira. Satchel quis imitá-la por que era motivo de zombaria. Não foi minha sugestão aquele nome, que significa bolsa para livros.
Pergunta - Em que ponto está sua autobiografia.
Resposta - Estou na metade. Já escrevi cerca de 200 páginas. Mas ainda não sai da minha adolescência.

Tradução de Celso Fioravante

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