São Paulo, quarta-feira, 11 de maio de 1994
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Dang Thai Son abusa do piano em recital

WILLIAM LI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Erramos: 20/05/94

A informação que o pianista Dang Thai Son é professor está incorreta.
Dang Thai Son abusa do piano em recital
Dang Thai Son, o pianista vietnamita vencedor do Concurso Chopin de Varsóvia em 1977, apresentou-se segunda-feira à noite na Sala São Luiz com um recital composto apenas por peças do compositor polonês.
Dang Thai Son, que é nascido em Hanói, formou-se pelo Conservatório de Moscou leciona atualmente na Universidade de Tóquio e representa bem a escola russa de interpretação pianística, aliado ao perfeccionissmo tecnológico japonês. Ele é amigo pessoal da princesa imperial do Japão e costuma dar recitais na corte.
Já na primeira peça do programa (que foi alterado à última hora), a "Barcarola op. 60", obra predileta do filósofo Nietzsche, nota-se o estilo de Son: muito vigor, abuso do pedal, mecânico, polido, sutil e frio. Dá para se notar que sua formação é russo-nipônica; falta-lhe o temperamento latino de um Pollini ou uma Martha Argerich, por exemplo.
Mas foi nos quatro "scherzi" que Dang Thai Son demonstrou todas as características de sua escola. No primeiro, "Op. 20 Nr. 1", ele foi muito mecânico, embaralhou-se nas passagens em "presto", cometeu falhas graves e demonstrou um mau uso do pedal.
No segundo "scherzo", "Op. 31 Nr. 2", o andamento foi rápido demais, o que fez a peça perder todo o seu encanto e romantismo. Esta era a peça na qual Chopin era o mais exigente com seus alunos, dizem que em geral eles não passavam das três primeiras notas na aula inteira.
Dang excecutou a peça com extrema agressividade: parecia um tanque soviético em ação. Nos outros dois "scherzi", a história foi a mesma: muita agressividade, que chegava por vezes à brutalidade. Um ponto a favor de Dang, no entanto, é a sua influência francesa. Nas passagens em "cantabile" ele consegue extrair do piano a delicadeza e a sutileza da escola francesa.
Na última peça do programa, a "Balada Nr. 1", Dang simplesmente arrasou o piano da Sala São Luiz. Houve bons momentos, mas ele abusou da violência. Trata-se da escola russa de tocar piano: pesada, com muita ênfase na técnica e na potência sonora.
O público parece ter gostado do recital, tanto que Dang deu dois bis: a "Valsa Nr.1 em Mi Bemol" e um "Noturno". O recital de Dang nada teve a ver com o romantismo do século 19. Em suma: foi bárbaro.

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