São Paulo, quarta-feira, 11 de maio de 1994
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Na hora da filmagem, a mulher faz o homem

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Há mulheres inspiradoras e mulheres desesperantes. Comparado com outros filmes de Roger Vadim, "E Deus Criou a Mulher" parece ter sido feito em transe. O ano era 1956, e o filme lançou Brigitte Bardot em grande gala.
Depois, Vadim filmou e casou sucessivamente com Annette Stroyberg, Catherine Deneuve, Jane Fonda. Elas seguiram em frente. A carreira de Vadim definhou tristemente. Só B.B. servia.
Jean-Luc Godard também nunca foi o mesmo sem Anna Karina. Seus trabalhos passaram a sofrer, quase sempre, de uma espécie de hipertrofia intelectual, associada a uma anemia afetiva que lhes fez perder um aspecto essencial.
Com Karina, Godard parecia ter uma alegria de filmar que nunca recuperou inteiramente.
O caso Woody Allen é quase semelhante. Sua direção podia ter aspectos capengas em "Um Assaltante Bem Trapalhão" (1969), mas o frescor e a novidade do humor estavam ali. Voltariam a seguir em sua fase Diane Keaton (culminando com "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa", 1977).
A mania de profundidade começou com o soturno "Interiores" (1978) e se acentuou na era Mia Farrow. Aprendeu a filmar bem. O fato, porém, é que seus filmes mostravam mais ou menos o que Ingmar Bergman, o sueco, mostrava melhor.
A imagem chorosa de Mia Farrow passou a dominar a tela, com exceção, talvez, de "Hannah e suas Irmãs". Os méritos ali eram, em boa parte, das irmãs (Barbara Hershey e Diane Wiest) e Michael Caine.
Sem Mia Farrow, Woody Allen parece ter reencontrado a liberdade e o prazer de filmar. O encanto de "Um Assassinato Misterioso em Manhattan" passa pela alegria de filmar com a leve Diane Keaton. A arte tem um lado evidente de brincadeira, ligado à felicidade que pode transmitir ao espectador. Em nenhuma arte ele é mais visível do que no cinema.

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