São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 1994
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Clima em Brasília relembra passeatas de 1968

DANIELA PINHEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Quem passou pela rua achou que estava em 1968. O cerco ontem dos 600 soldados do Exército à sede da Polícia Federal, em Brasília, promoveu um "revival" das passeatas estudantis nos anos do regime militar.
Armados com metralhadoras Beretta 9mm, fuzis automáticos e bombas de gás lacrimogêneo, os soldados passaram a manhã em posição de sentido apontando as armas para os manifestantes.
Os grevistas desarmados responderam com flores, música e palavras de ordem não ouvidas há quase 30 anos. Postados frente aos soldados gritavam "Abaixo a ditadura", "Governo Itamar é governo militar", "64 não".
O protesto contra a intervenção do Exército foi embalado por músicas consagradas pela esquerda na década de 60. Ouvia-se "Alegria, alegria" (Caetano Veloso) e "Pra não dizer que não falei de flores" (Geraldo Vandré).
As agentes femininas da PF compraram margaridas e dálias para oferecer aos soldados. Colocavam as flores em seus bolsos ou as jogavam em seus pés. Alguns soldados ignoraram. Outros usaram os coturnos para destruir as flores.
Mais ousada, a agente Mônica Lacerda, 27, enfiou estrategicamente uma flor no cano da baioneta de um soldado. Foi empurrada e teve a jaqueta jeans perfurada pela arma na altura do seio direito. Não se machucou por pouco.
Foi o primeiro incidente registrado em 52 dias de paralisação da PF. "O intuito de promover a ordem causou foi desordem e pânico entre os agentes", disse Francisco Garisto, presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais.
A rua em frente à PF foi interditada. Do 9º andar do edifício, onde fica o gabinete do diretor-geral Wilson Romão, assessores se acotovelavam nas janelas para ver o protesto.
Às 10h30, os policiais federais fizeram passeata, até o Congresso. Foram recebidos pelos presidentes da Câmara, Inocêncio Oliveira, e do Senado, Humberto Lucena.

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