São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 1994
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Acordo citrícola: o impasse continua

EVARISTO MARZABAL NEVES

Está em jogo o entendimento entre mais de 20 mil citricultores e uma dezena de indústrias processadoras de suco, bem como exportações anuais de US$ 1 bilhão.
No momento, a discussão mais séria no agrobusiness citrícola se dá na negociação do contrato de comercialização da nova safra. Na reunião de 02/05 último, entre produtores e as indústrias, não se chegou a um consenso e uma nova data (27/05) foi marcada para um possível acerto final.
As pressões dos citricultores são para que as indústrias abram suas planilhas de custo, inconformados com a formação de um preço único ou de um cartel de compras, como definem o fato de que a paridade dos custos na fábrica e repassados aos preços da caixa de laranja igualam tamanhos, volumes processados e capacidades de indústrias diferentes.
Deixando de lado as divergências que remetem à discutida heterogeneidade e qualidade da fruta que é entregue pelos citricultores e o fato de que o custo em cada processadora de suco é uma informação sigilosa e estratégica, verdadeiro segredo industrial, o agrobusiness citrícola mais uma vez é alertado para a necessidade de ajustes rápidos num mundo em transformação.
A mutante economia mundial, caracterizada pela expansão do comércio de bens e serviços, bem como a internacionalização do mercado de capitais e a crescente participação das empresas na organização produtiva e tecnológica revelam a importância das vantagens competitivas que conduz a participação de um setor, ou mesmo um produto, nas correntes internacionais de comércio, tecnologia e investimentos.
No caso particular do suco cítrico brasileiro, as vantagens competitivas são inúmeras, mas podem ser abaladas por desentendimentos internos na cadeia produtiva.
O cenário internacional para os produtos citrícolas nos próximos anos não é tão nítido. O que se espera do Brasil, com força isolada no hemisfério sul, é a antecipação e o seu preparo para as incertezas do futuro arrumando a casa quanto antes.
O que deve ser perseguido, imediatamente, é o equilíbrio entre os elos da cadeia. O pressuposto da manutenção das vantagens competitivas se baseia no fato de que nenhuma corrente é mais forte do que seu elo mais fraco e é este o que acaba determinando a capacidade competitiva do setor. A hegemonia só será mantida se cada parte, dentro de suas ações, está em equilíbrio e operando eficientemente. Por analogia, numa caixa, as laranjas sadias não conseguem expulsar uma fruta podre: porém esta, tem a capacidade de apodrecer, se mantida na caixa, as frutas vizinhas e assim por diante.
As tensões que existem entre os setores de produção e agroindustrial necessitam serem amortecidas. Deve-se pensar agora como Brasil.
O aperfeiçoamento das relações contratuais no sistema quase-integração entre a produção e a agroindústria deve contemplar a busca da eficiência, das reduções nos custos e ganhos de produtividade, uma vez que os padrões organizacionais-institucionais não são estáticos.
Entendida que a hegemonia deve ser mantida, as negociações clamam pela busca da parceria perfeita e sincronizada do campo com a indústria. Esta, como pólo dinâmico do setor, tem como desafio aproveitar as economias de tamanho, produzir em escala, abrir fronteiras, se aprofundar nos estudos previsionais e de tendência de mercado. Implementadas essas ações, orientar e planejar estrategicamente os elos da cadeia produtiva e encontrar os caminhos e saídas que dêem ao setor citrícola a sustentabilidade internacional do maior produtor mundial de frutas e sucos.
Assim agido, quem é rei, jamais perderá a majestade.

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