São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 1994
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Highsmith tem tratamento em tom fetichista

BERNARDO CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Patricia Highsmith tem uma queda pela água. Em seu último romance, "Ripley Debaixo d'Água", o ilustre personagem inventado pela escritora americana é atormentado pelo seu passado de crimes que emerge com um cadáver jogado em um canal.
Em "A Vítima por Testemunha" ("Eaux Profondes"), de Michel Deville, baseado no romance "Águas Profundas", um corpo também é jogado n'água, onde permanece até o fim, mantendo viva a ameaça de um dia emergir e pôr tudo a perder.
Nos livros de Highsmith a água é quase uma metáfora da própria estrutura narrativa: nada acontece, mas a tensão é permanente.
Em "A Vítima por Testemunha", a ambiguidade dessa "ação sem ação" está na relação amorosa (e perversa) de um casal. Sem que as coisas sejam ditas, a mulher mantém casos extraconjugais, expondo-se em público e mesmo ao marido, que observa aparentemente com passividade, mas termina agindo da forma extrema –o que, em Highsmith, é sinônimo de assassinato.
Nessa relação perversa nunca se sabe até onde vai a cumplicidade, quem sabe o quê, e qual a real finalidade dos atos. O francês Deville deu a esse material um tom fetichista e afetado. Foi sua principal contribuição a uma trama sutil.

Vídeo: A Vítima por Testemunha
Diretor: Michel Deville
Elenco: Isabelle Huppert e Jean-Louis Tritignant
Distribuidora: Paris Vídeo Filmes (tel. 011/864-3155)

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