São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 1994
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A volta

Pouco mais de 70 anos depois da Marcha sobre Roma, que levou à consolidação do governo ditatorial de Benito Mussolini, os herdeiros políticos do fascismo voltam ao poder na Itália. O novo primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, incluiu no seu gabinete seis membros da neofascista Aliança Nacional.
As últimas eleições do país, como se recorda, foram realizadas na esteira de enormes escândalos de corrupção e num clima de revolta contra os políticos tradicionais que dominaram a Itália desde o pós-guerra. A campanha polarizou-se entre os ex-comunistas e a frente de extrema direita, que uniu os liberais do megaempresário Berlusconi, os federalistas do Norte e os neofascistas, bloco que afinal obteve a maioria do Parlamento.
Embora não utilize o termo neofascista, a Aliança Nacional tem como seu principal componente o Movimento Social Italiano, o qual por sua vez foi criado em 1946 para perpetuar a ideologia de Mussolini. E ela permanece, por exemplo, no populismo nacionalista –que já chegou a questionar as atuais fronteiras italianas–, na defesa de um Estado forte, centralizado e que intervém e controla a economia. Aliás, o líder da Aliança Nacional, Gianfranco Fini, afirmou publicamente há pouco que Mussolini foi o maior estadista deste século.
Não é de surpreender assim que a indicação do novo gabinete italiano tenha provocado grande repercussão na Europa. Do chefe de Estado francês ao principal partido de oposição da Alemanha, passando por representantes de outros governos e mesmo pela mídia européia, o retorno dos neofascistas foi visto com reservas e desconfiança, quando não lamentado ou condenado.
Num gesto sugestivo, o próprio presidente da Itália, Oscar Scalfaro, chegou a enviar cartas a Berlusconi antes da indicação do gabinete alertando para a necessidade de que os ministros não atentassem contra os princípios de liberdade e legalidade nem colocassem em risco a imagem do país no exterior. Ao menos neste último aspecto, a recomendação parece não ter sido seguida.

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