São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 1994
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Meus caros amigos

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – No alto comando do PT, faz-se uma previsão extremamente realista: se eleito, Luiz Inácio Lula da Silva vai receber pressões duríssimas de seus aliados. Não será fácil administrar os pedidos. Os conflitos que ocorreram ontem no Brasil são um bom exemplo de que tal preocupação tem fundamento.
As Forças Armadas decidiram ontem intervir na Polícia Federal, há 53 dias em greve –aqui em Brasília, aliás, montou-se um espetáculo desnecessário com helicópteros dando rasantes na Esplanada dos Ministérios, ocupada por tanques e carros blindados. Era um clima de golpe de Estado.
Ligado à CUT, o sindicato dos agentes da PF quer aumentos salariais imediatos. É apenas um detalhe da gigantesca pressão acumulada no funcionalismo público federal, inconformado com seus salários. Lembre-se que o funcionalismo já ocupa uma imensa fatia do orçamento e Lula, como qualquer candidato eleito, sairá do palanque com uma série de promessas para melhorar educação, saúde, estradas etc.
Ao mesmo tempo em que as Forças Armadas, em Brasília, davam um show inútil, movimentos dos "sem-terra" entravam em prédios públicos expondo suas reivindicações. Em Porto Alegre, a tentativa de invasão acabou em tragédia, com agricultores e policiais feridos.
Há um lance político por trás dessa movimentação: a direção dos sem-terra chegou a anunciar publicamente que, nesse ano eleitoral, iria radicalizar. Prometeu-se até um número recorde de invasões. Lula deveria começar a impor os limites, mas preferiu calar diante dos votos. Corre o risco, assim, de pagar caro se virar presidente.
PS – Um dramático exemplo da falta de credibilidade da vida pública e da falta de conhecimentos de nossa história. Numa pesquisa realizada pelo Instituto Soma em Brasília, foi perguntado aos entrevistados quem são os heróis e ídolos do Brasil. Os primeiros colocados: Ayrton Senna, Pelé e Roberto Carlos. Xuxa e Zico estão na frente de Lula, Tiradentes e Betinho. No final da lista, Garrincha ganha de Getúlio Vargas. É perguntado se algum político brasileiro, vivo ou morto, mereceria ser chamado de herói: 46% dizem que não. Sarney e Lula empatam com 2%.

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