São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 1994
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Fazendo as contas

TASSO JEREISSATI

Diariamente, alguns jornais publicam tabelas sobre os índices inflacionários e, mais recentemente, sobre a "inflação em URV". Porém, muitas das avaliações sobre esses percentuais vêm acrescidas de equívocos gritantes, até mesmo absurdos. Já se falou que a "inflação em URV" teria atingido até 15% em um mês. Isso é tecnicamente impossível, uma vez que a URV é a média ponderada dos três principais índices de preços do país.
Esta alegada inflação em URV decorre da comparação de alguns itens específicos que compõem os índices de preços com a URV. Como a taxa de inflação é uma média, haverá sempre bens cujos preços subiram mais do que essa média, mas também haverá os que ficaram abaixo. Seria portanto possível selecionar uma cesta de bens que gerasse uma deflação em URV bastante significativa. Porém, não seria correto, uma vez que os índices de preços são medidos a partir da variação de uma cesta de bens cujos componentes são apontados com base em pesquisas domiciliares sobre como é gasto o orçamento doméstico não pelo critério da essencialidade do produto, mas pela preferência dos consumidores.
Além disso, como cada um dos três índices de preços que compõem a URV tem metodologia de cálculo distinta, é natural que eles apresentem diferenças em relação à URV, ao ponto de algum deles indicar inflação e, outro, deflação no mesmo período.
Porém, nesta hora em que já está definida a data de lançamento da nova moeda, o real, em 1º de julho, mais importante do que essa discussão técnica sobre médias é avaliar qual é a expectativa de inflação da nova moeda, a partir dos resultados obtidos até agora.
Essa projeção poderia ser feita utilizando-se a taxa de aceleração da própria inflação, que seria uma aproximação da "inflação em URV". A evolução dos índices de preços no último ano, quando se registrou um aumento de cerca de 30% ao mês para 43%, mostra uma aceleração mensal de 1,5%. Em termos atuais, isto geraria uma inflação anual de 20% –o que indiscutivelmente é um excelente resultado.
Mas as notícias são ainda melhores com os resultados dos últimos dois meses com a implantação da URV –as projeções para a inflação anual são ainda mais animadoras. Comparando-se a URV com os principais índices de preços do país e não com seus próprios componentes– o que provocaria uma clara distorção do resultado apontado para um saldo ainda mais favorável –obtém-se uma inflação em 12 meses de cerca de 10% para a Fipe –o índice de preços da cidade de São Paulo. No caso do IGPM, esse percentual é reduzido para 3%; e para o índice nacional, o IPCA, chega-se a obter pequena deflação (-0,77%).
As perspectivas, portanto, são alentadoras. O programa econômico segue o cronograma estabelecido desde sua concepção e tem tudo para abater de vez a inflação. No entanto, no Brasil, criou-se a cultura de que a "boa" notícia é aquela que mostra aspectos negativos. Apesar dos números favoráveis, analistas os mais categorizados insistem em fazer avaliações negativas sobre as perspectivas do plano de combate à inflação.
É certo que ainda não dá para cantar vitória no embate contra a inflação. Mas todos os dados objetivos levam a uma expectativa absolutamente positiva.

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