São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O fantasma do PT

LUÍS NASSIF

À medida em que não aparecem nomes capazes de enfrentar a candidatura petista, o que pensa o PT entra na ordem do dia das análises de cenário.
O PT está dividido, hoje em dia, em dois grupos bastante distintos entre si –não necessariamente agrupados nas mesmas tendências. No círculo próximo à Lula há um núcleo de intelectuais que vêem o partido sob o prisma social-democrata. Este grupo tem afinidades com a bancada federal do partido e com alguns nomes regionais fortes, como o ex-prefeito de Porto Alegre Olívio Dutra, e o atual Tasso Genro.
O grupo propõe formas extra políticas de controle do Estado, como o estímulo a organizações civis, não-politizadas, opinando e fiscalizando atos de Estado.
É um pensamento que, embora em evolução, ainda encontra dificuldades em entender adequadamente o funcionamento de economias de mercado –mais em função de carência de informações específicas (já que só recentemente passaram a se ocupar do tema) do que de barreiras ideológicas.
Acreditam que a única maneira do Estado exercer papel regulador na economia é através de estatais –o que é um grosso equívoco. E julgam que a melhor política de distribuição de renda consiste em estimular a fabricação de produtos de terceira para consumidores de segunda –quando são produtos sofisticados, vendidos no mercado internacional, que garantem crescimento e geração de empregos bem remunerados.
De qualquer forma, é um grupo aberto a novas idéias e que coloca a redução da miséria e o crescimento como metas centrais de pensamento.
O segundo grupo é dos xiitas, e seus diversos subgrupos. Em geral, são dominados por lideranças que se valem do discurso radical como meio de ocupar espaço no partido, mais que por convicção.
Este fato, se de um lado demonstra a fragilidade do esquema de representação petista –que permite a qualquer um que manipule temas radicais montar seu exército de evangélicos– por outro, garante flexibilidade de negociação.
A grande incógnita é Lula, apesar de sua envergadura como homem público e sua reconhecida idoneidade. Entregue o PT coeso a Lula e ele será capaz de enfrentar o mundo. Incumba-o de administrar um racha interno e ele trava.
Além disso, em que pese sua inteligência, a visão que Lula tem dos problemas nacionais é mais intuitiva do que bem informada e mais recheada de preconceitos do que os sindicalistas da geração posterior.
É esta postura que impede que se aceite tranquilamente a posição otimista dos intelectuais social-democratas do PT, de que a linha do partido já estaria decidida em seu favor.
O caso Porto Alegre
O prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, remete carta à coluna, a respeito de comentários feitos recentemente sobre sua administração. Diz ela:
"(...) Em primeiro lugar, o governo de Porto Alegre sentiu-se profundamente honrado com as referências feitas (...)".
"Na verdade, a maioria dos que falam na reforma do Estado tem em mente seus interesses corporativistas ou setoriais e não a sua universalização e submissão à sociedade civil. Por isso mesmo, esse processo jamais mereceu análises mais aprofundadas, retratando o processo de afirmação da cidadania que ocorre em Porto Alegre".
"Quero fazer, porém, por respeito à sua integridade como jornalista, duas correções: 1º) em nome do governo, vetei a participação no Conselho de Representantes do Orçamento Participativo de qualquer militante do Partido que exercesse cargo de confiança no governo, independentemente de sua postura no debate (Nota do colunista: a coluna informara que o veto atingira os xiitas do partido) (...)".
"2º) (...) Quero discordar –é divergência de opinião, não correção de fato– da afirmação de que minhas posições são minoritárias dentro do partido, em relação ao projeto do Orçamento Participativo. Este projeto (...) tem o apoio dos principais quadros de todas as correntes do PT em escala nacional".
"Dirijo esta correspondência a V.Sa., amparado no profundo respeito que tenho pelo seu trabalho e pela honestidade dos seus propósitos, que seguramente têm muita afinidade com o que estamos fazendo em Porto Alegre".

Texto Anterior: Fazenda decide hoje se adia prazo do Imposto de Renda
Próximo Texto: Combustíveis sobem e passam à URV sábado
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.