São Paulo, sábado, 14 de maio de 1994
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Três em campanha

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

"Fernando Henrique diz que Lula é incompetente até para ser deputado." Para quem prometia e cobrava dos demais candidatos uma campanha limpa, sem acusações rasteiras, o candidato tucano mudou muito rapidamente. A manchete do TJ serve para mostrar que ele entrou em campanha, como queriam.
Mas o melhor do dia, em mudança de idéia, foi José Sarney. Não tem muito tempo, naqueles mesmos dias em que Fernando Henrique saiu cobrando campanha limpa, o ex-presidente prometeu que, com qualquer resultado nas prévias, ele aceitaria e apoiaria um candidato peemedebista. Ontem, mudou tudo.
"Me retirei das prévias, mas não me retiro da sucessão", disse José Sarney, até com certa indignação, como se a derrota –agora certa– para Orestes Quércia fosse resultado de um golpe baixo do adversário. Como se não fosse ele mesmo, Sarney, quem estivesse desrespeitando palavra e regra.
Não adianta, que José Sarney transpirava derrota para Quércia, ontem no Jornal Bandeirantes. Da mesma forma, Fernando Henrique Cardoso, aparecendo em mangas de camisa, tomando café e comendo pão de queijo em bar, demonstrava fraqueza e não agressividade e "preparo", na televisão inteira.
"O candidato mais preparado" foi a descrição escolhida ontem, na propaganda tucana, para FHC. Sublinha seu primeiro ataque a Lula.
O petista, voltando de Nova York, desfilou segurança e poder. Até para tratar das greves ele estava firme, sem a infantilidade mostrada, antes da viagem, no Jô Soares Onze e Meia, por exemplo. Já chegou dizendo, no TJ, que "o mês de maio é um mês de grandes dissídios", e daí as greves.
Foi uma desculpa rápida e competente para a acusação de que seus partidários criaram a onda grevista dos últimos dias para desmoralizar o plano FHC, única arma eleitoral do adversário. Pena que o colega Meneguelli surgiu para dizer que as greves buscam mesmo expor a política econômica.
Foi no Jornal Bandeirantes. No mesmo telejornal, Lula aproveitou as tropas na rua para reforçar um pouco a sua imagem sindical, que andava embotada, quase esquecida. Declarou, por exemplo, que não existe greve política ou eleitoral: "São bobagens que eu ouço desde 1978." Naquele tempo, Lula nem sonhava ser candidato a presidente.

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