São Paulo, sábado, 14 de maio de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Leilão de café pode não conter alta, diz indústria

A indústria de café não está convicta de que a política de liberação gradual de estoques do governo vá conter os preços do varejo.
O primeiro leilão, marcado para 20 de maio, pretende vender 450 mil sacas de 60 quilos de produto.
"Esse leilão pode ser uma faca de dois gumes", diz Américo Sato, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).
Em suas contas, a previsão do governo de despejar 2,4 milhões de sacas nos próximos 12 meses dá conta apenas de 50% da necessidade do mercado interno.
Segundo Sato, algumas pequenas torrefadoras já estariam interrompendo suas atividades, diante da alta dos preços da matéria-prima. Em 15 dias, ela subiu cerca de 40% para a indústria, afirma.
Essas indústrias não teriam mais espaço para repassar os aumentos para o preço final. Motivo: o consumo recuou 15% no primeiro quadrimestre deste ano.
Ele não descarta a possibilidade de um colapso no abastecimento.
Outro fator, na opinião do presidente da Abic, que joga a favor da subida dos preços é que a venda será feita em leilão.
Se a disputa for apertada, isso pode jogar os preços para cima ainda mais, prevê Sato.
O preço do café subiu 56,15% em cruzeiros reais nos últimos 30 dias em 70 supermercados de São Paulo, segundo pesquisa Procon-Dieese.
Hoje as cotações do café no mercado interno estão acima dos preços internacionais por causa da entressafra da produção brasileira.
O diferencial é expressivo. A saca está valendo cerca de US$ 135 aqui, contra US$ 122 lá fora, descontadas as despesas com impostos e frete. Segundo produtores, é o melhor preço em seis anos.
Resultado: as vendas no mercado externo estão quase paralisadas, informa Roberto Simonati, da Tricon Corretora de Mercadorias.
Segundo Simonati, os negócios com o mercado externo recuaram 44% em abril. O volume exportado em março somou 1,408 milhão de sacas em março contra 783 mil sacas no mês passado.
O mercado começou a se fortalecer a partir de outubro do ano passado, quando os países produtores firmaram acordo internacional para reter o café.
A alta generalizada nos prçoes se consolidou com a insuficiência de produto tanto no Brasil como em nível mundial.
Nas contas de Manoel Vicente Bertone, presidente do Conselho Nacional do Café, entidade que reúne os produtores , a safra brasileira deste ano deve oscilar entre 21 milhões e 22 milhões de sacas. A anterior totalizou 26 milhões de sacas.

Texto Anterior: Contribuinte deve ter pressa
Próximo Texto: Gasolina já está mais cara e urvizada
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.