São Paulo, sábado, 14 de maio de 1994
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CD revela faixas raras dos Oito Batutas

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

O selo Revivendo de Curitiba está lançando em CD as vinte gravações realizadas pelo conjunto Oito Batutas na Argentina no início de 1923.
São vinte gravações divididas em dez discos pelo conjunto em sua terceira formação, durante excursão por Buenos Aires entre dezembro de 1922 e abril de 1923. Os registros foram transportados diretamente da era mecânica para a digital, sem escalas no disco 78 rpm elétrico ou no LP.
Oito Batutas fundou o modelo de instrumentação básico da música brasileira urbana. O som do grupo –que usava uma formação maior do que os regionais– chocou o poeta Hermes Fontes. "Estragaram a verdadeira poesia dos sertões", escreveu.
Mas Oito Batutas tinha mais fãs do que detratores. Para o historiador Lúcio Rangel, foi "o mais célebre conjunto instrumental da nossa música popular".
Rangel tinha razões para dizer isso. Liderado pelo flautista, arranjador e compositor carioca Pixinguinha (1898-1973), o grupo abriu diversas picadas na cultura brasileira de 1919 a 1923.
Foi o primeiro conjunto de negros a se apresentar (e a tocar música brasileira típica) na sala de espera de um cinema.
O fato se deu em abril de 1919 no Cine Palais, na avenida Rio Branco, Rio. O gerente da casa sugeriu ao já flautista do cinema que formasse um grupo típico para se apresentar na sala de espera.
Pixinguinha arregimentou músicos do Grupo do Caxangá e formou o Oito Batutas. As performances bateram os filmes.
Foi também o primeiro conjunto brasileiro a se apresentar no exterior. Em 1922, o bailarino Duque, difusor do maxixe na Europa, convidou Pixinguinha e amigos para tocarem em Paris.
O grupo desembarcou numa cidade dominada pelas "jazz bands". De janeiro a junho de 22, apresentou-se no Dancing Shéhérazade como "Les Batutas". Foi sucesso porque a instrumentação baseada em cordas se diferenciava da metaleira do jazz.
Não soube, porém, manter a originalidade. Voltou ao Rio com influência do jazz. Pixinguinha tocava "shimmies" ao saxofone e Donga trocou o violão pelo banjo nos foxtrotes. Passou a representar a "era do jazz", a modernidade.
O grupo foi o primeiro a ter arranjos e músicas exclusivas. Em 1923, durante a temporada no teatro Empire de Buenos Aires, gravou as 20 faixas que estão no CD.
São quatro músicas cantadas e 16 instrumentais. Dessas, só quatro foram regravadas no Brasil por outros músicos. Ali está Pixinguinha engatinhando ao saxofone em "Até Eu" (Marcelo Tupinambá) e seu irmão China altercando contra Sinhô em "Já te Digo".
O som é penoso. Mesmo assim, o CD constitui um item essencial. Oito Batutas se dissolveu em Buenos Aires depois das gravações. Continua vibrando nelas.

Disco: Oito Batutas
Músicos: Pixinguinha (flauta e sax), Donga (violão e banjo), China (violão e voz), Nelson dos Santos Alves (cavaquinho), Zezé (bandolim e ganzá), J. Thomaz (bateria), Josué Barros (violão) e J. Ribas (piano)
Lançamento: Revivendo
Quanto: 15 URVs (o CD, em média)

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