São Paulo, sábado, 14 de maio de 1994
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Calvin Klein cria a moda casual

EVA JOORY
DA REPORTAGEM LOCAL

Para definir Calvin Klein basta uma palavra: fenômeno. Aos 52 anos, ele é hoje o estilista de mais sucesso e prestígio dos Estados Unidos.
Sua marca abrange a clássica Calvin Klein e a esportiva CK –mais barata– e os perfumes Obsession, Eternity e Escape. Ao todo, seu império movimenta US$ 1 bilhão em roupas e acessórios e US$ 400 milhões em perfumes.
Calvin Klein é tido como um criador minimalista. Suas coleções confirmam esta tendência. Suas roupas são básicas, simples e elegantes. Buscou inspiração não só no preto, cor que elegeu necessária desde o início de sua carreira, mas também o marrom, que ele decreta ser "o novo preto".
Na sua última coleção para o outono-inverno no mês passado em Nova York, confirmou a volta dos vestidos e saias plissados e apresentou um novo comprimento –acima do joelho– para seus vestidos e saias.
Com uma carreira polêmica, Klein é agora também tema de uma biografia não-autorizada, intitulada "Obsession", que acaba de ser publicada nos Estados Unidos. Nela, os autores Steven Gaines e Sharon Churcher afirmam que o estilista é bissexual e entusiasta da cocaína.
Em entrevista exclusiva à Folha por telefone de Nova York, Klein recusou falar sobre a biografia e se definiu como um estilista moderno: "Ser moderno é ter escolha. Homens e mulheres têm necessidade de variedade e de opção. É preciso criar alternativas e oportunidades para isso".
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Folha - O sr. apresentou a coleção mais bonita do ano neste outono-inverno. No que pensou para criá-la?
Calvin Klein - Penso, como sempre, na mulher moderna. Madura, segura de si e sensual.
Folha - Porque a sugestão de um novo comprimento nas saias e vestidos?
Klein - É para dar mais refinamento, mais feminilidade. Este comprimento mostra as pernas de uma maneira diferente.
Folha - O que o inspira para criar? A idéia de simplicidade está sempre presente?
Klein - Eu sempre começo com a idéia de como eu vejo a mulher, depois o tecido e depois, como uma coisa leva à outra. O tecido dá o conceito, a realidade. É ele quem determina o que eu posso e o que eu não posso fazer. Nesta temporada, ele me deu uma liberdade incrível. Quero fazer com que as mulheres fiquem lindas e ao mesmo tempo, quero que minhas roupas sirvam perfeitamente ao seu estilo de vida. É um desafio que atua como uma inspiração.
Folha - Porque o sr. acha que a moda está indo cada vez mais em busca dos jovens?
Klein - Moda significa mudança e os jovens também significam mudanças. A moda está no seu melhor momento e sempre atraiu um público jovem. Em muitos casos, nós estilistas refletimos o que eles já estão fazendo e usando.
Folha - Quais as diferenças básicas –além do preço– das marcas Calvin Klein e CK?
Klein - Os objetivos são diferentes para Calvin Klein e CK. No caso do CK, as roupas são mais leves, divertidas e modernas. Existe também mais variedade. A coleção CK tem roupas para serem usadas no fim-de-semana e outras para serem usadas no trabalho. CK significa mais escolha, e é claro, um preço mais acessível.
Folha - Como sr. cria para ambas?
Klein - A coleção para mulheres (Calvin Klein) é realmente sobre roupas luxuosas e bonitas que uma mulher sempre vai querer ter. Por exemplo, um suéter, tão fabuloso que você não se imagina sem ele. Mas o ponto é que as duas coleções se completam. A mulher que usa a linha Calvin Klein vai sempre querer possuir algumas peças do CK e vice-versa. Como disse antes, meu trabalho é sobre escolha e variedade.
Folha - Quem é a mulher que veste suas roupas?
Klein - Sempre faço questão de ver as mulheres bonitas e como são na realidade. O jeito que uma mulher se veste deve ser simples, sem esforços, moderno e luxuoso.
Folha - O sr. trabalhou com Fabien Faron. Como esta parceria começou?
Klein - Fabien é uma pessoa extremamente criativa e visionária. No momento em que vi o seu trabalho, há quase dois anos, percebi que ele era incrivelmente talentoso. Desde então, ele se tornou nosso consultor de arte e tem trabalhado bem próximo à nossa agência, CKK. Ele também está envolvido na criação do meu novo perfume CK one, a ser lançado ainda este ano.
Folha - Como escolheu Kate Moss para suas últimas campanhas? Quem escolheria para as próximas?
Klein - Penso tanto nela durante o processo criativo, que fica difícil hoje, separá-la das roupas. Sobre prováveis modelos, penso que se uma mulher ama minhas roupas, então ela é a ideal para vesti-las.
Folha - Você associa sua marca à modernidade e à juventude ou suas roupas são para a mulher que trabalha?
Klein - Minhas roupas são para a mulher moderna. Não faz nenhuma diferença se ela é trabalhadora ou esportiva. Na verdade, quando penso em Kelly (mulher do estilista) –e eu penso sempre nela– vejo que ela é o exemplo perfeito de como uma mulher moderna mistura todos os estilos de vida, esportiva, trabalhadora, cidade, campo. Não faz diferença.
Folha - Como o sr. vê o futuro da moda?
Klein - Moda reflete o espírito de uma época. Mas um estilista tem que continuar firme na sua filosofia de criação. Então vejo o futuro como uma mudança constante e minha reação a isto será sempre interpretar estas mudanças, na maneira mais simples, serena e elegante que eu puder fazer.
Folha - O sr. acha que a moda americana está pronta para competir com a européia?
Klein - Eu sempre senti que os EUA têm muito a oferecer à Europa, em termos de idéias como o sportswear (moda esportiva). Acho que a atitude de elegância casual, relaxada e bem arrumada é uma idéia super americana. Acho que temos muito a oferecer e por isso hoje, vejo que a Europa é um mercado importante para nós É também o cenário mundial para os lojistas e para a imprensa. As oportunidades são enormes. Hoje, nós estamos perseguindo de maneira agressiva uma expansão global, abrindo lojas e boutiques pelo mundo, com sucesso. O mercado e as oportunidades são espantosos e estão crescendo.

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