São Paulo, sábado, 14 de maio de 1994 |
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Ninguém é anjinho
MARCELO BERABA SÃO PAULO – Nesta guerra entre as candidaturas Lula, do PT, e de FHC, do PSDB, é difícil dizer quem está sendo patriótico e quem quer ver o circo pegar fogo. Ninguém é anjinho.O certo é que o ambiente político e econômico está contaminado pela eleição presidencial. E não poderia ser de outra maneira. Seríamos um país anômalo se fosse diferente. As greves são políticas? É até possível que parte delas esteja sendo organizada artificialmente para enfraquecer o Plano Real. Não é segredo que a CUT, ligada ao PT, estimula as greves. Mas também não há dúvida de que muitas categorias se sentiram prejudicadas com a conversão de seus salários de cruzeiro real para URV. É generalizada a sensação de perda de poder aquisitivo. Uma prova disso é que várias categorias já estão conseguindo reposições salariais através de negociações. E algumas negociações só aconteceram depois de greves. E o Plano Real, batizado inicialmente de FHC, é um plano neutro, técnico, dissociado deste ambiente eleitoral? É evidente que não. Porque, se assim fosse, não teria sido usado de forma política pelo governo Itamar, que fez questão de ter o candidato do PSDB na cerimônia de lançamento da nova moeda. E nem o governo teria demorado tanto tempo para concebê-lo e colocá-lo em prática. O ritmo obedeceu às conveniências do calendário eleitoral. E a ocupação dos prédios da Polícia Federal por tropas do Exército é um ato meramente administrativo? É evidente que não. E é evidente que ajudou a criar um clima de insegurança. Se fosse um ato apenas administrativo deveria ter sido tomado há mais de um mês, quando já estava flagrante a disposição dos policiais grevistas de afrontar o público e a autoridade executiva com ações violentas. Daqui para frente, praticamente tudo estará girando em torno da eleição de outubro e nada será gratuito. É ingenuidade achar que as greves não têm uso eleitoral. Têm, assim como o Plano Real e várias ações do governo. O que não lhes tira necessariamente a legitimidade. Nesta guerra não tem mocinho. E que Deus nos proteja! Texto Anterior: MUDANÇA; PRISÃO DE LUXO; ÁGUAS TURVAS Índice |
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