São Paulo, domingo, 15 de maio de 1994
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Latasa institui bônus e acumula lucros

MARISTELA MAFEI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Latasa, única fabricante de latas de alumínio do mercado interno, fez sua estréia no Brasil junto com o Plano Collor. Com o confisco, veio o resultado previsível. A empresa ficou três meses sem vender uma única lata e fechou 1990 no vermelho.
Quatro anos depois, a Latasa, braço do grupo norte-americano Reynolds Metal Company, prepara-se para inaugurar sua segunda fábrica no país. Lucrou nos últimos três anos e conseguiu sócios como o Banco J.P. Morgan e o Bradesco.
O sucesso está ligado ao "modo respeitoso e diferenciado" como seus funcionários são estimulados a conseguir resultados cada vez melhores. Parte dos lucros é distribuída. Quem tem salário menor ganha mais.
O desempenho do grupo no Brasil levou a Reynolds Metal Company a promover Deoclécio Pignataro, 49, presidente da Latasa no Brasil, ao cargo de vice-presidente da Reynolds nos EUA.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
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GRUPO ENXUTO
Nós temos um grupo muito enxuto de executivos e uma gestão transparente. Existe o diretor-presidene, mais três diretores (finanças, industrial e administrativo) e quatro gerentes operacionais –marketing, reciclagem, novos negócios e importação e exportação.
COMITÊ
São oito pessoas que reúnem-se em comitê operacional, onde se discutem metas e os programas dos nossos clientes. Nossos acionistas acompanham o desenvolvimento dos negócios mas não interferem na administração.
GESTÃO PARTICIPATIVA
Administramos através da gestão participativa. O diretor-presidente não toma decisões sozinho. com isso, dividimos responsabilidades e conseguimos maior adesão de todos para as metas da empresa.
PRIORIZAR O HOMEM
Nossa empresa prioriza o homem. Não adianta ter a máquina mais avançada sem o operador adequado. Chegamos a mandar 40 operários para receber treinamento nos Estados Unidos. Eles participam do sucesso da empresa.
SÓCIO
Nossos funcionários são tratados como sócios. É uma forma de mostrar que o empenho para que a empresa vá bem é revertido para todos. No final do ano, fazemos uma avaliação e um percentual sobre o lucro é revertido para os funcionários.
BÔNUS
Atualmente, o menor salário na Latasa equivale a três salários mínimos e meio. Quem está nesse patamar recebeu um prêmio equivalente a dois salários-piso da empresa no final de 1993, no segundo ano em que instituímos o bônus.
PRÊMIO
Além do bônus, criamos um prêmio. A idéia mais criativa para melhorar o desempenho de qualquer setor é premiada com US$ 1.000 mais uma viagem. Na nossa fábrica de Pouso Alegre, desenvolvemos o programa Bom Menino. Contratamos e treinamos 20 meninos de rua por ano.
DIVISÃO
A Latasa, Latas de Alumínio S/A, é uma empresa do grupo Reynolds Metal Company em parceria com o Bradesco e com o Banco J.P. Morgan. Reynolds e Bradesco têm, cada um, 42,5% das ações; o J.P. Morgan detém os outros 15%.
CONTROLE
O controle da empresa pertence à Reynolds. O grupo é o terceiro maior fabricante de alumínio do mundo e segundo dos Estados Unidos, país onde conta com 18 fábricas.
OPERAÇÕES
No Brasil, já operamos com a fábrica de Pouso Alegre (MG) e vamos inaugurar a segunda unidade, em novembro próximo, no Rio de Janeiro. No futuro, teremos uma fábrica de São Paulo.
CONE SUL
Nos outros países do Cone Sul, estamos construindo uma fábrica em Santiago do Chile, a ser inaugurada em junho de 95, Vamos contruir uma na Argentina que deve começar a operar em novembro de 95. Somos sócios de uma fábrica de latas de alumínio na Venezuela, onde também temos uma de rodas de alumínio.
PLANO COLLOR
O começo no Brasil foi dramático. Entramos em 1990 e enfrentamos o Plano Collor com meses a fio sem realizar vendas. Agora que passou podemos dizer que foi uma experiência produtiva.
CUSTO
Antes de 1990 havia dois fabricantes de latas, só que em aço: as metalúrgicas Matarazzo e Rheem. Eles estavam no mercado há mais de dez anos. Sete meses depois da nossa chegada eles pararam de fabricar: tínhamos custo inferior e qualidade internacional.
LOBBY
Havíamos realizado uma outra tentativa de entrar no Brasil, em 1986. Naquela ocasião não foi possível, enfrentamos um lobby poderosíssimo. Nossa entrada foi atrasada em quatro anos.
MONOPÓLIO
A palavra monopólio tem um sentido pejorativo, tem conotação de prejuízo. Somos os único fabricantes de lata de alumínio para bebida, mas nós competimos com as garrafas de vidro e de plástico PET.
COMPETIÇÃO
Quando chegamos ao país, 98% da fabricação de cerveja era produzida em garrafas de vidro, fornecidas pela Cisper e Santa Marina.
SERVIÇOS
Para competir, resolvemos adotar uma política de serviços a nossos clientes fora dos padrões tradicionais. Havia necessidade de mudanças de equipamento dos nossos clientes para viabilizar o envazamento em latas de alumínio. Colocamos nossos técnicos nesse assessoramento e em sete meses conseguimos realizar a adapatação.
RESPEITO AO CLIENTE
Quando chegamos, nos comprometemos, junto aos nossos clientes, em reduzir o preço da lata se eles fizessem as mudanças necessárias em suas linhas de produção.
PREÇOS
Começamos a reduzir preços sistematicamente. Toda a mudança que fazíamos e que resultava em redução de custos, repassávamos para os clientes. De 1990 a 1993, reduzimos nosso preço em 39,5%, em dólar.
IMPORTAÇÃO
Em um determindo momento, com o mercado em expansão, vimos que seria necessário ter que importar latas para atender aos pedidos.
SUBSÍDIO
Em alguns casos subsidiamos o produto, ao importar por preços mais caros que praticávamos. Mas quando chegava o verão a solicitação era tão grande que vimos que não dava para subsidiar; do contrário, teríamos um prejuízo muito grande.
LATA CHEIA
Parte dessas latas eram reexportadas cheias, através do sistema de "drawback", o que até dava um preço compatível. Mas com a outra parcela não era possível.
ALÍQUOTAS
Como os clientes continuaram aumentando sua capacidade de produção acima da nossa, chegamos à conclusão de que deveríamos pedir a isenção do imposto de importação para que os próprios clientes pudessem comprar, no mercado externo, a lata de alumínio.
PEDIDO
Em fevereiro último, encaminhamos uma carta ao governo solicitando a redução das alíquotas, o que foi atendido em abril. A imprensa chegou a publicar que a redução veio porque havíamos aumentados nossos preços em URV, o que não é verdade.
EXPANSÃO
Para se ter uma idéia, no ano passado nossa produção foi de 1,3 bilhão de latas, para um mercado de 1,5 bilhão. Em 1994, vamos produzir 1,7 bilhão de unidades e em 1995 pretendemos alcançar 3,9 bilhões.
MERCADO
O mercado brasileiro está em expansão. Saímos do zero em 1990, para 3,9% em 94, Pretendemos obter 5,5% do setor de embalagens de cerveja e refrigerantes no final de 96, Aí, vamos construir uma terceira fábrica em São Paulo. Entre 1994 e 1995 estaremos investindo US$ 180 milhões no país.
ESCALA DE PRODUÇÃO
Nossos preços são compatíveis com os praticados no mercado externo, tendo em vista a escala de produção. Circularam informações de que na Venezuela o preço da lata de alumínio é inferior ao praticado por nós. Mas essas fonte forneceram o valor da lata sem a tampa, o que, no fim, daria no mesmo.
EUA
Hoje o preço do mercado norte-americano é de US$ 0,76 a lata. Aqui está próximo disso –recebemos com uma semana de prazo, então temos a depreciação financeira. Quem for importar vai pagar um preço mais alto do que o que praticamos.
MATÉRIA-PRIMA
Nos EUA, são produzidas 79 bilhões de latas. Preço, nesse setor, um problema de escala. O alumínio, nossa principal matéria-prima é mais caro aqui do que nos EUA. Lá, o consumo de cerveja em latas representa 93% da produção. Aqui é de 3,9%. Então, para reduizir custos temos que ter escala mesmo.
SATISFAÇÃO
Nossa meta é buscar a satisfação do cliente. Ou seja, é fornecer quantidade que ele precisa no tempo estipulado, a preço acessível. Além disso, e principalmente prestamos assistência técnica permanente. Temos uma área dentro do marketing exclusivamente voltada para assistência técnica pré-pós-venda.
RECICLAGEM
Reciclamos, por ano, 200 toneladas de alumínio. Isso significa que o Brasil recicla 50% das latas consumidas, segundo dados da Associação Brasileira de Alumínio. No EUA, esse percentual é de 65% na Itália, 22%. Hoje, o programa de reciclagem nos proporciona economia de 8% a 10% sobre custo de produção.

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