São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 1994
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Preconceito atrapalha escola rural, diz estudo

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O ensino rural, além de enfrentar a falta de recursos que atinge as escolas urbanas, está desadaptado à população que atende.
A dissertação "Escola Rural: Cultura e Imaginário", de Maria do Rosario Silveira Porto, aponta que essa instituição "tem sempre sido vista de fora".
"As políticas, os planos, os currículos são estruturados por grupos que falam pelo homem do campo", diz Porto.
"Ora o homem rural precisa ser fixado no campo, ora precisa ser conservado em sua cultura, e assim por diante", exemplifica.
"Minha pesquisa levanta a necessidade de conhecer a realidade de cada local", acrescenta.
Segundo Porto, a dimensão simbólica do homem rural, seu imaginário, são mediados pela natureza. Sua "explicação do mundo" usa o campo, os animais, a floresta.
Já o professor, em geral, "é portador de um imaginário que reflete a cultura urbana".
"Os professores vêm com uma representação de quem são as crianças; têm preconceito, uma espécie de venda nos olhos", afirma.
Para ela, são poucos os professores que alcançam realmente conhecer os alunos, saber como eles se organizam.
"O reconhecimento da diferença já seria suficiente para melhorar o trabalho."
A dissertação descreve duas escolas rurais na região de Itapetininga, interior de São Paulo.
Uma das escolas tem classes separadas da 1ª a 4ª séries. A outra reúne essas quatro séries em uma única sala, com 16 alunos –o que é comum nesse tipo de escola.
A teoria usada na pesquisa é denominada socioantropologia, diz a pesquisadora. "E dentro disso, trabalhamos um novo paradigma, holonômico."
A idéia é fazer uma análise que não fique apenas centrada nas questões socioculturais, racionais, mas que também incorpore a dimensão irracional, afetiva, emocional dos envolvidos.
Para Porto, "enquanto todos os planos partirem de um paradigma clássico, apenas racional, dicotômico –do que sabe e do que não sabe, por exemplo–, aquele que tem o conhecimento é que vai ditar as regras".
"Mas essa população também tem um conhecimento e ela vai à escola buscar um avanço nesse saber", diz.

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