São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 1994
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Real muda forma de venda a prazo

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O futuro do consórcio no Brasil está indefinido. Algumas empresas que se utilizam desse canal de distribuição apostam no fortalecimento do sistema, com a entrada do real. Outras prevêem o seu fim.
Duas das maiores empresas de eletroeletrônicos do país –a Philips e a Sharp– , por exemplo, divergem sobre o desempenho do consórcio brasileiro na era do real.
A diretoria da Philips acredita que, com a estabilização da economia, a procura por esse sistema de venda cresce. Por isso acaba de acertar com o Consórcio Nacional Brastemp Sabrico a distribuição de seus produtos.
É a primeira experiência da empresa no sistema de consórcio. A idéia dos executivos da Philips é a de que, com a economia estabilizada, as prestações serão pouco ou nada reajustadas. Isso atiçaria a demanda.
A diretoria da Sharp, que tem uma empresa de consórcio desde 1982, aposta no caminho inverso. Para ela, com a entrada do real, o sistema enfraquece porque passa a competir com o crediário das lojas, que será mais longo.
A Philips, de qualquer modo, vai testar esse canal de distribuição com quatro modelos de televisores em cores, dois de aparelhos de som, um de videocassete e um de toca-discos a laser.
Se o teste da Philips for bem sucedido, a idéia da empresa é trabalhar com outras administradoras de consórcios. A própria experiência da Sharp chamou a atenção da Philips para o consórcio.
Hoje, a Sharp, do grupo Machline, escoa 33% da produção das suas linhas de áudio e vídeo via consórcio. Para a diretoria da empresa, com o real, esse canal de distribuição perde peso.
A empresa já se arma. Está começando a investir em lojas próprias. Primeiro, para revender outras marcas. Posteriormente, para comercializar produtos Sharp.
A Folha apurou que há dois anos o Consórcio Nacional Sharp chegou a ter 850 mil consorciados. Hoje, tem cerca de 750 mil. Entrega cerca de 1.000 produtos por mês. Recentemente começou a trabalhar com eletrodomésticos.
Eduardo Magalhães, vice-presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), diz que a desvantagem do consórcio no Brasil do real continuará sendo a seguinte: "o consumidor não leva o produto para casa na hora que deseja."
A vantagem para os adeptos do sistema, diz um especialista em consórcios da Abac, que reúne as administradoras, é o prazo longo que o consórcio oferece e, como consequência, a prestação de valor menor.
O prazo mais comum no segmento de eletroeletrônicos hoje é o de 25 meses.
Tomando-se esse período como exemplo, Antonio Carlos Clarim, diretor superintendente do Mappin Consórcios, mostra quanto o consumidor pagaria se optasse pela compra de um produto de R$ 1.000,00 pelo consórcio e pelo crediário na nova moeda.
Se a escolha é o consórcio, diz ele, o consumidor paga no ato da adesão uma taxa de 4% sobre o valor do produto (no caso, de R$ 40,00), uma taxa de 11% de administração (também sobre o valor do produto) e mais 5% de fundo de reserva (que pode ser devolvido no final do plano).
Assim, nesse caso, ele deve pagar 25 parcelas de R$ 46,40. O produto sai então por R$ 1.160,00. Somado esse valor à taxa de adesão, o produto sai por R$ 1.200,00.
Se a opção é o crediário das lojas e, supondo-se que a taxa de juros incidente é de 4% ao mês, o cliente deve pagar 25 parcelas de R$ 61,05, nos cálculos de Clarim. Assim, o produto sai por R$ 1.526,25.

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