São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 1994
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Palmeiras resume sua força em dois lances

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Em dois lances, no clássico de ontem, o resumo do campeonato e o retrato fiel de um campeão. No primeiro, bola dominada por Mano, na zona morta, Evair dá o bote, leva o drible, insiste tanto que ganha a jogada e dispara em direção ao gol de Ronaldo até sofrer o pênalti, que ele mesmo converte. Exemplo de dedicação e solidariedade. No segundo, Edílson recebe no meio-campo, parte reto rumo ao gol inimigo, dribla dois, evita o goleiro e deixa uma placa de ouro cravada no gramado do Pacaembu. Pura habilidade.
Dedicação, solidariedade e talento, eis a fórmula deste Palmeiras supercampeão.

Desde que comecei a me enfiar área adentro no futebol, ouço a história de que o jogo com os pés deveria imitar as táticas do jogo com as mãos, o basquete. Claro que as mãos conferem maior precisão do que os pés. Por isso mesmo, o futebol exerce essa inexplicável magia. É exatamente no grau de incerteza e dificuldade na manipulação (veja que não há um termo equivalente para os pés –pedepulação, por exemplo) da bola que reside o encanto do futebol.
O que seria, porém, adotar a tática do basquete para o futebol? Resumindo: defender com o máximo de jogadores possível e atacar com igual potência, no mínimo.
Estabeleceu-se, então, que o ideal seria defender com oito e atacar com oito. Tirando-se o goleiro, um ente específico e estático, dos dez restantes, dois apenas deixariam de participar das manobras. Isto é: quando uma equipe se defende, dois ficam lá na frente; quando ataca, dois ficam aqui atentos ao contragolpe. Esse quarteto haverá de ser formado pelos dois zagueiros centrais e os dois pontas-de-lança ou avantes. Logo, a formação ideal, se convertida em fórmula numérica, seria 2-6-2.
Há um quarto de século isso era considerado uma utopia. Como cumprir tal tarefa, se as pernas e os pulmões não resistiam a tanto?
Nos anos 30, o húngaro que era austríaco, Dori Kruschner, tentou fazer de Fausto, a Maravilha Negra, um volante moderno e o que resultou foi a imagem literária congelada pela ilustre casa dos Rodrigues, Nélson e Mário Filho: o negro genial, de refinado futebol, tendo hemoptises em pleno gramado. Era como diziam que acabaria Bauer, o Monstro do Maracanã, quando Zezé Moreira, em 54, implantou a marcação por zona, um sistema que conferia ao volante múltiplas funções.
A rápida evolução dos métodos de preparação física, a expansão da farmacologia e os milhões de dólares que passaram a correr junto com a bola impulsionaram o futebol em direção a tal utopia, que hoje é uma prosaica realidade.
Basta ver como jogam Barcelona, Milan, Palmeiras, São Paulo. O que faz a diferença entre eles é a qualidade dos jogadores. Quando o Milan dispunha do mágico trio holandês, atacava com mais eficiência e habilidade; quando o tricolor tinha Ronaldão, lá atrás, e Cerezo no meio-campo, atacava com mais fluência e inteligência.
Tudo isso, pra dizer o seguinte: o time de Parreira pode disputar a Copa com uma equipe moldada na mais pura utopia; ou cair na mais anacrônica e superada formação. A diferença será, como sempre, ditada pelos homens que ele escolher.

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