São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 1994
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Os deuses da bola devem estar roucos

MARCELO FROMER; NANDO REIS

Tenham cuidado com os 11 Cafus
MARCELO FROMER e
NANDO REISEspecial para a Folha
A verdade é que nos tornamos fáceis presas do costume. E este maldito costume às vezes faz com que cheguemos a tal ponto de contaminação que algumas coisas com as quais realmente não concordávamos em hipótese alguma, e de certa maneira nos chocavam pelo evidente absurdo, passam despercebidas, sem causar espanto.
E é essa impressão que esta definitiva convocação nos causa. Só para se ter uma idéia, a seleção conta com nada mais nada menos do que dez jogadores da inexpressiva seleção de 90. Muitos deles já têm garantida a vaga de titular no time de Teimoso. Quando finalmente foi anunciada a convocação final, os nomes não causaram em todos nós a devida repulsa, pois o time titular do Brasil está definido há praticamente quatro anos. E isso é bom?
Seria, caso estivéssemos utilizando os nomes certos, e mais do que isso, a concepção correta. Se houve injustiças na convocação? É evidente que sim.
Vamos começar pela nossa defesa. Imaginem quando estivermos por acaso sendo pressionados e a pelota pipocar na nossa grande área. Conseguirá sozinho Ricardo Rocha neutralizar a jogada ou terá que contar com o auxílio luxuoso de Gomes, Branco, e mais atrás Taffarel? Sem contar o aspecto da idade avançada e que pode nos atrapalhar quando enfrentarmos a seleção de Camarões, que, metaforicamente falando, forma com 11 Cafus incansáveis.
Quanto aos goleiros, nada justifica a presença do simpático bigodudo Gilmar no lugar de Ronaldo do Corinthians.
Roberto Carlos deveria ocupar a vaga de Branco. No meio-campo, o esforçado e mais nada Dunga, protegido de Teimoso, deveria por razões puramente técnicas ceder seu posto vitalício para o inquestionável César Sampaio.
Na frente, a mais nova "invenção" Paulo Sérgio foi mais um ato de arbitrariedade conceitual. Evair não poderia estar de fora por sua experiência e poder de conclusão em gol.
Mas no fim das contas não são exatamente os nomes que nos incomodam profundamente e sim a maneira pela qual iremos atuar no mundial. E se é verdade que existem os deuses do futebol, como diz o incontestável Helena Júnior, os deuses devem estar roucos de tanto gritar no ouvido desses dois surdos que comandam a nossa seleção. Então, que fique bem claro que nós definitivamente não apostamos numa seleção dirigida por dois adeptos do futebol destruição.
O fim do sonho nas pistas parece ter reforçado a idéia de que temos, a qualquer preço, que conquistar o tetra com os pés. E isso é uma tremenda bobagem, mais uma deformação tão comum a nós brasileiros. Ninguém tem a obrigação de vencer absolutamente nada, isso é balela, papo furado, jogada de demagogos, políticos e patrocinadores, que, com um dedo incômodo em riste, ou rebolando assanhadamente em frente as TVs, tentam nos enfiar goela abaixo um monte de estupidez sem precedentes. Nós só temos a obrigação de jogar um futebol vistoso.
Com o Teimoso, faltam 32 dias para começarmos a perder mais uma Copa.

Marcelo Fromer e Nando Reis são integrantes da banda Titãs

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