São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 1994
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Nicholson Baker se caracteriza por esquisitices

MARCELO REZENDE
DA REDAÇÃO

"Minha mãe é muito importante para a minha vida de escritor. Ela foi a primeira pessoa que me explicou, bem antes de eu ouvir falar em Fitzgerald, Hemingway ou Mayler, sobre as forças que podem destruir um escritor. Especialmente na América."
Se a mãe do escritor Nicholson Baker tinha uma visão muito clara do cenário em que seu filho pretendia viver, o da literatura americana, talvez não soubesse que seu pequeno Nick perverteria todas essas "forças" com uma prosa criativa, hipnótica e bem humorada.
Seu primeiro romance, "The Mezzanine", era quase uma provocação explícita ao leitor. Se não, como definir a história de um homem que sofre uma verdadeira iluminação sobre sua vida, ao olhar os cadarços de seus sapatos em uma escada rolante?
Em seguida surge a segunda esquisitice de Baker: "The Room Temperature". Depois, sua obra-prima: "U and I". Uma longa dissertação do autor tentando acertar contas com o seu maior ídolo: o escritor John Updike.
Na verdade, tentando justificar para si a razão de Updike nunca o ter convidado para um jogo de golf.
A fase libidinal de Nicholas aparece em 1992 com "Vox"(já lançado no Brasil).
A história de um homem e uma mulher que nunca se viram, mas que adoram praticar, ao telefone, algo que poderia ser definido como sexo falado.
Se o círculo intelectual nova-iorquino se assustou, ao menos "Vox" serviu para colocar Baker, finalmente, na lista dos mais vendidos. Algo que pode se repetir com esse "Fermata".
Mas Baker parece estar disposto a abandonar o sexo em seus livros. E já provou isso com seu mais recente trabalho publicado: um longo ensaio sobre os velhos cartões das bibliotecas.
E o que mais esperar de um autor que todas as noites faz longos discursos imaginários para agradecer os prêmios que nunca ganhou?

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