São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 1994
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Negar é preciso

O eventual sucesso do plano econômico e a queda da inflação para níveis muito baixos deverão ser, evidentemente, positivos para a população. A atitude das pessoas e dos agentes econômicos face à iniciativa do governo, por sua vez, terá grande influência no resultado das medidas de estabilização.
Constatar essa relação recíproca, entretanto, não significa dizer que o desenlace da já insuportável crise brasileira depende somente de um voto de confiança dos cidadãos. Os agentes econômicos tendem a avaliar o futuro do plano com base nas informações de que dispõem, especialmente aquelas relacionadas às ações do governo. Dessa avaliação é que resultará uma maior ou menor "aposta" na estabilidade.
Segundo a maioria dos analistas, e do próprio mercado, as medidas econômicas parecem coerentes e bem desenhadas. Mas isso não basta. Para que elas sejam eficazes é necessário que o governo mostre determinação em seguir os preceitos por ele mesmo estabelecidos.
Dentre eles, o principal e, ao mesmo tempo, aquele sobre o qual hoje recaem maiores dúvidas é a manutenção de um Orçamento equilibrado. Nesse sentido, o déficit que o Tesouro apresentou no mês de abril serve como um aviso.
Ainda que o resultado negativo de US$ 1,4 bilhão deva-se, excepcionalmente, à incidência das folhas de pagamento de março e abril em um mesmo mês, no valor de aproximadamente US$ 1,5 bilhão, a situação não é tranquilizadora.
No quarto mês do ano, a conta de juros das dívidas interna e externa foi de aproximadamente US$ 2,5 bilhões e tende a crescer se as taxas reais forem aumentadas. Projeções realizadas pelo Banco Central e pelo Ministério do Planejamento apontam um déficit operacional entre zero e 0,6% do PIB em 1994.
Para que se atinja, portanto, a meta de equilíbrio, o governo precisará manter-se inflexível no controle de gastos. Caso contrário, estará solapando a confiança na estabilização e a viabilidade de seu próprio programa econômico.

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