São Paulo, terça-feira, 17 de maio de 1994
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Universidade produz bezerro na proveta

ULISSES DE SOUZA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM P. PRUDENTE

Três bezerros zebus de proveta nasceram há dois meses na fazenda Ajuricaba, em Cândido Mota (450 km a oeste de São Paulo).
A técnica, pioneira no Brasil e na América Latina, foi dominada pela equipe do professor Enoch Borges de Oliveira Filho, da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Jaboticabal (SP).
A equipe conseguiu, em 91, fecundar em laboratório o óvulo de uma vaca nelore (zebu) com o sêmen de touros puros europeus.
Durante dois anos, os embriões fecundados em laboratório foram transferidos sem sucesso para as "mães de aluguel", como são chamadas as vacas que recebem os embriões, com a missão de gestar e parir os bezerros.
Mas em maio do ano passado, o objetivo foi alcançado na fazenda Ajuricaba, uma central especializada em transferência de embriões.
Os três bezerros fecundados no laboratório da Unesp e gerados em úteros "emprestados" têm como pais touros holandês e pardo-suíço e como mães vacas nelore sem origem.
"Nossa preocupação não foi com a raça e sim com o domínio da técnica", diz Oliveira, 55, ao justificar a linhagem "fraca" dos animais de proveta.
Segundo ele, as doadoras dos óvulos foram vacas com sangue nelore abatidas na região de Jaboticabal.
"O importante era obter a fecundação com animais zebuínos, como o nelore, porque estes predominam no Brasil", diz Oliveira.
Oliveira explica que aprendeu a técnica durante os 14 meses em que estagiou em laboratórios de reprodução animal daqueles países.
"Precisei ajustar a metodologia ao gado zebu, cujas características são diferentes das do gado europeu", diz.
As dificuldades, segundo ele, surgiram durante a etapa de manipulação dos óvulos retirados de vacas mortas.
Nessa fase, os óvulos ainda estão dormentes e imaturos, ou seja, não servem para reprodução.
"Nós levamos quatro meses para chegar aos 112 produtos químicos utilizados nessa fase, e que não são iguais aos usados no gado europeu", diz o pesquisador.
Ele quer aumentar o índice de aproveitamento dos óvulos retirados das doadoras. Hoje, cem óvulos geram apenas entre 12 e 18 embriões.

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