São Paulo, terça-feira, 17 de maio de 1994
Próximo Texto | Índice

Grande investidor busca dólar

NILTON HORITA
DA REPORTAGEM LOCAL

O dólar paralelo voltou a ensaiar uma recuperação e fechou ontem com o mesmo preço do dólar comercial, depois de atingir um valor 0,31% acima no início da tarde.
O preço de venda ficou em CR$ 1.560,00, contra CR$ 1.560,15 do comercial, um deságio ínfimo de 0,01%.
Grandes investidores –bancos nacionais e, principalmente, estrangeiros– estão reduzindo suas aplicações em cruzeiros reais obtidas com a venda de dólares e empurraram o "black" para cima. As multinacionais também estão remetendo dinheiro para as matrizes, o que exige a compra de dólares no mercado de taxas flutuantes.
A estimativa do mercado é a de que houve uma saída líquida de US$ 150 milhões desde a semana passada. O receio de uma vitória do candidato Luiz Inácio Lula da Silva cria temor entre os grandes participantes do mercado.
O giro de negócios no mercado de taxas flutuantes aumentou de US$ 200 milhões para US$ 600 milhões. Como os preços do paralelo se formam pela taxa do flutuante, o movimento dos grandes acaba estimulando os pequenos.
Os preços do paralelo e do comercial estão caminhando praticamente empatados desde a semana passada, depois um longo período de deságio.
Como o dólar é o real, a nova moeda que vai nascer em 1º de julho, o Banco Central não está intervindo para deter o avanço das cotações do paralelo.
Segundo os especialistas, o BC deixa empatar as cotações, mas dificilmente vai permitir que o paralelo se valorize demais.
O BC tem US$ 35 bilhões para conter novas altas. A unificação das cotações reflete também maior procura pelo "black" por parte de investidores pequenos.
Eles temem perdas com aplicações de renda fixa na transição para a nova moeda, o real, como aconteceu no Plano Collor.
"O medo em relação ao plano dos pequenos investidores e as eleições leva muita gente a se resguardar no dólar", explica Luiz Fernando Figueiredo, diretor do Banco BBA.
Segundo os analistas, o dólar, porém, continua sendo um péssimo investimento. "Compra-se dólar pela sensação de segurança e abre-se mão da melhor rentabilidade oferecida pelos juros", acrescenta Figueiredo.
"O brasileiro comum, não tem jeito, gosta de comprar dólar quando ele aumenta de preço", acrescenta Nathan Blanche, presidente da Anoro (Associação Nacional de Câmbio e Ouro).
Para José Berenger, diretor financeiro do ING Bank, o mercado está e deve continuar aquecido. "Trata-se de atitude defensiva", afirma. "Houve esta conjunção de Plano Real com inércia da candidatura de Fernando Henrique. O dólar, porém, é uma porcaria em termos de investimento."
A maior procura por dólar, de acordo com Paulo Mallmann, diretor financeiro do Banco BMC, não terá fôlego para continuar depois do real.
"Teremos ciclos de alta da cotação do paralelo até o real", prevê. "Depois, vai ser difícil continuar, pois o juro real ficará muito alto."

LEIA MAIS
sobre aplicações na pág. 2-3 e 2-6

Próximo Texto: Quem perde; Peso dos salários; Números distantes; Renda comprometida; Imposto milionário; Com expectativa; Na adversidade; Outro público; Atrás da demanda; Como dantes; Para acionista ver; Poupança em dólar; Três vantagens; Em compensação; Números no contexto; Anos dourados
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.